(...)Lá fora a sirene duma ambulância soa estridente. Alguém aflito, penso. Um pai, uma mãe, um irmão de alguém.
Eu nunca tive irmãos. Passei uma infância sozinha. Sempre à espera que chegasse um irmão. A quem pudesse queixar-me. Com quem pudesse partilhar uns risos, umas bolachas, um pouco de televisão. Uns tabefes, até.
Mas ele nunca chegou. Faltam-me irmãos.
Dizem-me, alguns que os têm, que não fazem falta. São empecilhos, partilhas forçadas. Carne da mesma carne, sangue do mesmo sangue, mas interesses de outros interesses. Não interessam.
Não sei se hei-de acreditar. Ainda hoje, quando sei que nenhum irmão irá chegar, fico sentado à espera que chegue. Que me diga Olá sou o teu irmão, vamos brincar?
Sentado horas a fio, à espera que isso aconteça.
Tal como estou sentado agora. Mas agora não sei o que espero. Nem desespero.
Ela também não. Sinto-a sossegada do lado de fora. Tão sossegada que parece dormir. Mas eu sei que não está.
Ao mínimo ruído todos os seus sentidos despertam. Viajam por onde for necessário para que eu não fique sem ajuda.
Eu, que nem a mim próprio consigo ajudar.
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