(...)Aquela que a levara até ali, sem perguntas, sem reclamações, pronta escutar, dar a mão, ser amiga e levar-me com ela, porque no fundo era nisso que tudo se resumia.
Continuei a olhá-la pelo olho mágico. Substitui a visão da janela alagada, pela dela, igualmente alagada, olhando para mim através da solidez daquela porta.
Sim, porque eu sabia que ela me podia ver através da porta. E de todas as paredes, à distância de uns breves metros ou mesmo com oceanos pelo meio.
Nem precisava de falar para ela me perceber. Aliás, sem ela eu não conseguia descodificar-me. Por isso a tinha chamado ali.
Para ver se me entendia. Sobretudo para ver se ainda conseguia falar. Para verificar se todas as palavras não tinham ficado secas na minha garganta.
Ela era uma espécie de saca-rolhas de todas as garrafas que trazia escondidas dentro de mim e que, naturalmente, não me deixavam respirar, tornando-me frágil como uma pequena peça de cristal, daquele tão puro que se poderia estilhaçar apenas com a expressão de um pensamento mais forte.(...)
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