quarta-feira, 10 de março de 2010

(...) - 4

(...)Voltou a bater à porta. Desta vez soou mais alto.
Já sabia que eu estava ali logo atrás daquela porta que nos evitava os olhares, embora ambos soubéssemos que nos víamos mesmo assim.
Tentei pigarrear para fazer a pergunta da praxe, desnecessária.
Não consegui dizer nada. Ela, no entanto, disse o meu nome.
Eu gosto de ouvir o meu nome. Fico nostálgico. Volto a uma infância longínqua, quando o meu nome era dito por vozes doces, com tonalidades que iam do chocolate com leite até tangerinas sumarentas que refrescavam as, ainda quentes, noites de um Outono recente.
Desde essa altura que já ninguém dizia assim o meu nome. Até que a ouvi pela primeira vez. Nela, o meu nome, tinha o sabor de cerejas. Muito vermelhas e muito escuras, daquelas que não conseguimos parar de comer.
Era isso, o meu nome eram cerejas na sua boca.
(...)

1 comentário:

Apple disse...

Sem palavras...como "isto" é belíssimo...