segunda-feira, 22 de março de 2010

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(...)Lá fora a chuva continua a cair, agora mais miudinha, mas imparável.
Olho os vidros da janela e deixo que o meu olhar percorra os trilhos que as gotas vão desenhando ao deslizarem pelo vidro.
Era assim um jogo que costumava jogar quando, no banco de trás do carro de meu pai, íamos à terra. Não à minha terra, nem sequer à dele, que era a mesma que a minha, mas à dos seus pais. Que ficava lá longe, depois dos montes, dos vales, dos rios e riachos, das curvas e contracurvas, num outro mundo, longe da nossa cidade, longe daquele mundo que eu julgava nosso.
Demorávamos horas intermináveis para lá chegar.
As estradas eram estreitas, tinham buracos, desvios, curvas e mais curvas. Mas eram caminhos bonitos, com árvores a bordejá-los. Às vezes, quando a luz era pouca, podíamos ver um coelho a saltar, até uma raposa fugidia e o meu pai parava o carro e dizia, Viste? E eu olhava e dizia que sim, mesmo que não tivesse visto nada, porque sabia que lhe agrada. Animais selvagens que fugiam à frente do carro, assustados por aquele ronco surdo que os carros tinham naquela altura.
E parávamos depois à beira da estrada. Num espaço diminuto, onde cabíamos apertados uns contra os outros e contra o carro que nos protegia dos outros que por ali podiam passar, mas que nunca passavam.
E fazíamos aquilo que eles gostavam de chamar o piquenique.
(...)

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