(...)Estiquei as pernas. Percebi que, no lado de fora, ela tinha feito o mesmo. Parecíamos miméticos. Feitos um para o outro. Porque não? Pensei. De facto nunca tinha pensado nisso.
Ela ali estava, por mim, para mim. Eu não. Seria demasiado egoísmo? Era filho único, que é um outro nome para egoísta.
De repente o céu tornou-se mais escuro. Uma breve, mas forte, luminosidade acendeu-se. Logo depois surgiu o trovão. Forte e poderoso.
A casa estremeceu. Eu também. Lá fora ela também.
Nas noites de trovoada mal conseguia dormir. Não porque tivesse medo. Não tinha.
Ficava maravilhado. Com o poder dos trovões, com a atracção pelos relâmpagos. Com a vertiginosa capacidade natural em criar um espectáculo daquela dimensão. Tão belo. O mais bonito espectáculo do mundo.
E deixava-me ficar a admirar todo o esplendor da trovoada. Aquelas noites eram belas e poderosas.
Uma feiticeira única. Senhora do mundo. Dona de uma fantasia única. Aquela fantasia que vivia dentro dos contos de fadas de que eu tanto gostava.
(...)
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