terça-feira, 7 de julho de 2009
Barroco, quase, tropical
Sempre associei o conceito de barroco a algo muito trabalhado, a algo que está para além da linearidade, embora não numa forma fantástica, mas sim muito concreta, plausível, uma beleza plausível, digamos.
Das músicas, aos trajos, à literatura, à arquitectura, à forma de viver dos artistas e ao expressar dos seus sentimentos.
Não sei, nem sequer me interessa, se este é o conceito acertado, correcto. É, e chega-me, o que carrego em mim. Como tal posso, se calhar devo, alterá-lo, torná-lo mais claro ou, porventura, mais obscuro, com maiores e mais complicadas nuances que, no fundo, o tornam ainda mais meu.
Nos dias que passam, quando penso em barroco musical, penso nos primeiros discos dos The Divine Comedy. Quando o imagino na roupa, vejo as criações de Jean Paul Gaultier. Quando o vislumbro no cinema, já sei que é obra de Peter Greenaway. Já nos livros tenho mais dificuldade em defini-lo. Pode ser um livro do Ballester, uma fantasia realista de Garcia Marquez, um sonho desenhado por Schuiten e imaginado por Peeters, tantas outras coisas.
Ontem acabei de ler um livro que se auto define como barroco, Barroco Tropical. Não sei se, no meu conceito, cabe como tal, sei que gostei, que me incomodei, que quase me convenci a abrir, no meu conceito, a chaveta tropical, mas, ainda, não abri, porque barroco é Europa, não é trópico, é frio, é cidade, é a ousadia fechada deste continente e não a imensa claridade africana.
No entanto, dou por mim a recordar as palavras e as imaginações de Agualusa e penso que se uma mulher pode cair do céu, se um anjo negro pode morar no mais profundo de África, se uma cantora encanta todo um mundo, talvez então estejamos perante a tal beleza plausível, aquela de que só uma imaginação barroca é capaz!
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