sexta-feira, 5 de junho de 2009

histórias de Rosa Branca


II

Zacarias Gorjão acendeu o seu cachimbo. Olhou à sua volta e deixou que a leve brisa que soprava apagasse o fósforo que segurava entre os dedos.
A sua pequena cidade estava calma naquele dia. Conhecia todos os que ali habitavam. Conhecia de cor as pedras das suas habitações. Sabia-lhes os nomes e desde quando ali estavam. Tinha-lhes dado as boas-vindas… a todos.
Há mais de 50 anos que gostava de fumar o seu cachimbo ali mesmo, debaixo daquela árvore centenária, sentado naquele banco de pedra, olhando em redor e recordando cada momento vivido ali, junto da sua gente, daqueles que nunca o abandonavam.
Zacarias sabia que o jovem Perestrelo ia abrir as suas asas naquele mesmo dia. Zacarias sabia que tratava de uma loucura, mas mesmo assim tinha-o encorajado, tinha-lhe falado do seu avô e de como também era destemido, de como também era temerário e, sobretudo, de como nunca desistia dos seus sonhos.
Zacarias levantou-se então e, ao contrário do que fizera nos últimos anos, decidiu ir a Rosa Branca.
Ao fechar a porta do cemitério, Zacarias soube que não podia voltar atrás, a história que lhe queimava a memória não podia continuar calada…

(continuará)

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