quarta-feira, 3 de junho de 2009

histórias de Rosa Branca


I

Quando Jordão Perestrelo abriu as asas toda Rosa Branca parou. Nem o próprio vento ousou soprar naquela hora.
Ao acercar-se do beiral, Jordão olhou em frente, para o horizonte que o esperava, para um infinito que sabia ser seu.
Lembrou-se então do que o levara até ali. Toda a sua vida lhe correu pelos olhos, em cadência acelerada, mas demorando o tempo preciso para perceber todos os momentos, para ouvir todas as vozes, para entender todas as razões. Um filme, afinal, feliz, em tecnicolor, em ecrã gigante, sem cortes, sem acrescentos, tudo no seu devido lugar.
Ouviu então um som conhecido, muito leve, quase em surdina, que vinha saindo, em crescendo, de dentro de si. Entoou então aquela canção, sabendo que mais ninguém a conseguia ouvir, partilhando-a com cada pedaço do seu corpo e lançando-a para a ponta das suas asas, de onde as luzes invisíveis lhes dariam alento para prosseguir.
Jordão Perestrelo olhou por fim para baixo, onde os seus conterrâneos o fitavam, quedos e expectantes…
Nunca Rosa Branca tinha estado tão suspensa de um acontecimento, nunca Rosa Branca tinha acreditado tanto, nunca Rosa Branca vira aquele Jordão, até hoje.
E tanta coisa tinha acontecido entretanto…

(continuará)

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