- Olá.
-Olá.
- Então que me dizes?
- Foi tudo ao contrário.
- Ao contrário?
- Sim.
- Ao contrário como?
- As expectativas.
- Expectativas? O que é isso?
- Desejos, sonhos, objectivos, esperanças, sei lá eu.
- Pois…
- Esperamos que o tempo nos dê tempo para sermos felizes. Que nos dê horas para podermos sorrir, encontrar, cumprir. É, acho que é isso, tempo para nos cumprirmos.
- Tempo…
- Isso, tempo. Esperar que amanhã seja melhor que hoje e lembrar que ontem, se foi bom, se deve guardar.
- Falas de maneira estranha. Tempo, ontem, hoje, amanhã. Sabes que aqui não há tempo. Aqui todos sabemos o que fazer, quando fazer. Não há surpresas.
- Sim, pode ser isso também. Surpresas. Agradáveis. Ser surpreendido pode ser uma coisa boa. Muito boa.
- Mas agora estás aqui e surpreendido não irás ficar.
- Sim, por isso digo que foi tudo ao contrário. Até chegar aqui foi um caminho tortuoso e surpresas, se as tive realmente, foram todas defraudadas. Tal como as expectativas. Tudo ao contrário.
- E como chegaste aqui?
- Pois não sei, não me lembro.
- É comum. Muitos dos que aqui estão não se lembram como aqui chegaram, nem porquê.
- Mas dizias que aqui não há tempo…
- É verdade, aqui não há tempo. Ou então podes entendê-lo de outra forma. Aqui só há tempo, tempo não te vai faltar aqui.
(...)
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