Ao acordar naquela manhã tudo, à sua volta, estava branco. Duma brancura translúcida, sufocante. A alvura espalhava-se do seu quarto até à rua. Olhando pela janela confirmou que toda a paisagem se tinha descolorido, tudo estava sem cor, cheio de um branco doentio que lhe cortava a respiração.
Abriu a janela e sentiu um ar frio, quase gelado, que se foi entranhando por todos os seus poros, até mais nada sentir que uma imensidão vazia que lhe ia preenchendo o corpo.
Sentiu-se desvanecer e percebeu que a sua visão já quase nada alcançava para além daquela cor leitosa que ia cobrindo até os seus pensamentos, as suas memórias.
Quando a porta do quarto se abriu compreendeu que já nada conseguia ver e quando tentou falar verificou, já sem espanto, que as palavras que tinha pensado se apagavam antes de as poder pronunciar.
Também a sua audição se ia perdendo sem hesitação, mesmo assim ainda conseguiu ouvir uma voz que lhe parecia vagamente familiar,
É verdade, este era o seu quarto, mas há já muitos anos que está vazio…
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