Não gostava muito de música, ou pelo menos pensava isso.
Não tinha gira-discos, nem leitor de cd’s. Não fazia ideia do que era um ipod e nunca tinha ouvido falar de mp3.
Nunca tinha assistido a um concerto, entrado numa discoteca, quase não ouvia rádio, nem via televisão.
Queimava os dias, uns atrás dos outros, sem se aperceber que havia coisas muito belas que desconhecia. Tinha um lema escondido, o que se desconhece, nunca apetece.
Sabia que lhe faltavam coisas, mas não fazia ideia que coisas eram. Ia errando pela vida ao sabor do que lhe traziam os dias. Dias que lhe eram pequenos, porque assim os queria.
Não se sentia alegre, nem sequer triste, era um ser quase metálico, onde as emoções esbarravam sem encontrar porta de entrada.
Um dia descobriu que estava sol, abriu então a janela do seu quarto e viu pessoas. Nas outras janelas de outros quartos, na rua, nas varandas, no cimo das árvores e ouviu um som que ia subindo pelas ruas.
Música?
Sentiu algo que não conhecia.
Música? É assim a música?
Debruçou-se mais. Viu que as pessoas batiam palmas, algumas dançavam e viu que estavam contentes.
Um sorriso envergonhado subiu-lhe ao rosto. Sentia-se diferente. Bem.
Estava quase alegre.
Foi então que soltou uma sonora e sincera gargalhada, no exacto momento em que a banda passou debaixo da sua janela…
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