Carregou no botão.
A porta, como era seu dever, abriu-se devagar.
Entrou.
Introduziu o cartão na ranhura respectiva.
A porta, como era seu dever, fechou-se lentamente.
A cabina estremeceu levemente e a viagem iniciou-se.
Olhou-se no espelho e viu-se cansado.
Entretanto a velocidade aumentou.
Como todos os dias fechou os olhos e deixou que a vertigem que sempre o acometia acalmasse.
Subitamente sentiu um solavanco inesperado. Abriu os olhos espantado e notou um abrandamento anormal.
Parou.
Olhou para o painel onde os números costumavam passar rapidamente e notou que estava apagado.
Intrigado voltou a colocar o cartão na ranhura. Nada.
Abriu então a portinhola que tinha escrito EMERGÊNCIA. Carregou no botão vermelho e esperou alguns segundos.
Nada.
Pegou no pequeno martelo que estava junto ao vidro fosco e partiu-o. Digitou o número de socorro.
Nada.
Olhou-se outra vez no espelho. Viu-se ainda mais cansado.
Tentou abrir a porta manualmente. Empurrou-a levemente. Abriu-se.
Não reconheceu o local. Não era em nada semelhante aos andares que já tinha visitado. Não conseguiu compreender em que piso estava. Nada daquilo lhe era familiar.
A medo saiu.
A porta, como era seu dever, fechou-se lentamente atrás dele.
Começou a andar, tentando encontrar algum ponto de referência.
Nada.
Voltou atrás e carregou no botão. A porta, contrariamente ao seu dever, manteve-se fechada.
Foi então que ouviu uma música ao longe. Uma leve brisa roçou-lhe a nuca.
Virou-se. Viu então que estava na rua e que o sol nascia.
Dirigiu-se para o local de onde julgava que a música subia. A rua era comprida, rodeada de árvores, mas não se via vivalma, nem casa alguma.
Ao passar junto a um muro viu uma inscrição. 150º Piso.
A música era agora mais forte, tal como o vento que lhe beijava a fronte.
Olhou para trás e a porta do elevador continuava no mesmo lugar. Fechada.
O prédio onde morava só tinha 149 andares. Era de betão e nunca se apercebera que houvesse algo por cima.
Tentou perceber o fim daquela rua, mas não encontrou contornos, curvas, abismos que o levassem a concluir estar no cimo de um edifício.
Voltou a ouvir a música. O vento era agora mais forte. Selvagem até.
Viu que um espelho o esperava um pouco mais à frente. Olhou-se nele. Não se reconheceu.
Já não estava cansado.
Começou então a correr. A música era mais forte. O vento mais selvagem.
Foi só no último momento que percebeu que estava a voar…
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