segunda-feira, 14 de março de 2011

Olá (VIII)

(...)
- Posso fazer o seguinte. Ele está quase a chegar. Eu posso esperar mais um pouco. Sento-me ali naquela cadeira que está ali naquele canto escuro. Assim que ele chegar falas um pouco com ele e depois terás que optar, por mim, por ele, ou pelo ribeiro.
- E do ribeiro quem me falará?
- Podes tentar falar com o próprio ribeiro, mas deixa-me avisar-te que ele é de poucas falas, e só responde quando está bem-disposto, o que é raro.
- Farei como dizes.
- Vou então sentar-me. Lá vem o outro. Tens pouco tempo, fala com ele e decide-te.


- Olá!
- Olá…
- Então que me dizes?
- …, eu já ouvi isso…
- É natural, por aqui somos pouco originais e, no fundo, todos queremos saber o mesmo.
- E porquê?
- Ali o meu amigo sentado no escuro não te explicou?
- Ou eu não compreendi.
- Queremos conhecer-vos, sabermos quem são, por que vieram para aqui e para onde vão.
- Não sei porque vim para aqui, nem sei como aqui vim parar, não faço ideia para onde vou e quem sou é difícil de explicar.
- Nunca é. Basta ser sincero. Creio que o vosso problema é começar a mentir, a dissimular, a inventar muito cedo e depois perdem-se pelo caminho e nunca mais voltam atrás, nunca mais sabem como foram e nunca mais são.
- Talvez tenhas razão. A vida leva-nos a fazer coisas que, possivelmente, nunca quereríamos.
- E quando aqui chegam vêm tão viciados que nunca se chegam a descobrir. E sou eu, e aquele amigo ali, que temos que vos destrinçar, vos ligar, vos descobrir.
- E a mim, o que vais fazer para me descobrir.
- Eu? Nada. És tu que me vais dizer.
- O quê?
(...)

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