Já se gastou muito tempo desde que aqui estou. Muitas pessoas me passaram. De todas essas quantas se lembrarão de mim?
Algumas houve que pararam para me ver, para me falar, algumas até para me abraçar, poucas se atreveram a beijar-me.
Mas foram muitas, a maioria, que passaram sem me ver, sem saber que houve quem me tivesse deixado juras de amor eterno e quem comigo tivesse descansado.
Houve também quem me subisse para os ombros e aqui tenha ficado a contemplar o mundo à nossa volta. Quem adormecesse comigo e me tenha alimentado.
Outros sujaram-me, feriram-me, tiraram-me pedaços vivos.
Tanta gente que me afagou, que me passou a mão ao de leve e que me bateu também.
Mas pergunto-me se terá havido alguém que me pensou? Que tenha perdido alguns minutos da sua vida para perceber como me sentia, como vivia, como sobrevivia?
Já vi muitas delas desaparecerem, algumas ainda voltaram de quando em vez, a maioria foi sem nunca regressar.
Tantas que morreram já, enquanto eu aqui fui ficando.
Hoje ainda aqui estou, e sei que estarei por mais algum tempo. Mas, não sei se alguém se lembrará de mim quando eu também for.
Não sei se farei parte de memórias, de alguma história, de vontades em recordar.
A não ser, talvez, daqueles, muito poucos, que ainda têm saudades dos Outonos e por aqui vêm recolher as minhas folhas castanhas, que, por teima, continuo a deixar ir todos os anos.
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