(...)
- Não, nem sempre, é tudo uma questão de dosear as ambições.
-Ambições? É a mesma coisa?
- Será, talvez. Nunca me tinha apercebido que tudo isto anda tão ligado. Quase que sou levado a concluir que andamos por aqui sempre à espera que algo aconteça e que nos vamos frustrando à medida que o tempo passa e nunca lá chegamos.
- Pelo menos aqui estás a salvo disso. O tempo não existe. Ou existe mas sem objectivos, acho que já te tinha dito isto.
- Pois já e é por isso que estou tão atónito. Andei tanto tempo a correr atrás da felicidade e que agora não sei para onde me devo dirigir.
- Mas aqui não tens esse problema, não tens que te dirigir para lado algum. Tudo te vai chegar calma e tranquilamente.
- Tranquilamente, que sonho.
- Sonho? Era esse o teu sonho, tranquilidade?
- Também. Sabes, é muito difícil alcançar a tranquilidade, a calma que nos consegue levar até onde os caminhos que trilhamos não conseguem.
- E que caminhos são esses?
- São aqueles a que nos propomos em cada dia que passa. Aqueles que verdadeiramente desejamos e, sobretudo, aqueles para onde o quotidiano nos obriga a ir e que, a esmagadora maioria das vezes, não queremos ir.
- E por que vão?
- Gostava de te saber responder, era sinal que eu próprio tinha entendido o sentido de tudo isto. Mas não sei. É tudo muito complicado. Há tantos atalhos no nosso caminho, tantos caminhos secundários, tantos desvios, que, tantas vezes nos obrigam a desviar do caminho principal, que nos perdemos e então nunca mais o recuperamos, ou então só o recuperamos tarde de mais, como agora.
- Então achas que recuperaste o teu caminho? Aqui?
- Espero que sim. Não sei. Diz-me tu.
- Eu também não sei. Ainda não sei por que estás aqui. Só sei que estás. E, é verdade, não podes voltar atrás.
- Não posso mesmo?
- Nunca ninguém pôde. Acho que também não irás consegui-lo. Era isso que desejavas.
- Não sei. Isto é tão desconhecido para mim. Nunca pensei que poderia estar aqui a conversar contigo. E porque conversamos nós?
(...)
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