segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

(Meios) Caminhos


Quando chegou à encruzilhada viu que muitos caminhos se abriam a partir daquela clareira.

Havia-os de várias as formas e feitios.

Aquele que se abria largo, bordejado de árvores frondosas e magnificas na sua enormidade.

A seu lado partia um outro, estreitíssimo, escuro, ladeado por árvores cadavéricas, quase mortas, constantemente nuas.

Também havia uma estrada inócua, sem nada que sobressaísse, quase que se sumia na sua insignificância. 

Logo a seguir havia um que começava exactamente numa ponte feita de pedaços de madeira envelhecida, por baixo corria um rio veloz e assustador, de cor amarelada, a sua voz ouvia-se à distância e aquilo que dizia não ajudava à escolha daquela via.

Um pouco mais longe estava outro. Este parecia muito agradável. O sol iluminava-o abundantemente. Havia flores nas suas margens e até uns pássaros coloridos lhe sobrevoavam o curso.

E havia ainda o caminho por onde ali tinha chegado e esse ele já conhecia bem demais, não tinha vontade em percorrê-lo de novo, não lhe apetecia voltar atrás.

Só então reparou que este caminho já lhe estava barrado. Um muro imenso e intransponível surgira entretanto nas suas costas, no momento exacto em que pusera o pé na clareira. Apenas um leve buraco no muro lhe permitia espreitar o que havia deixado lá atrás, mas teve a certeza que nunca mais lá poderia voltar.

Estava exausto, a dúvida assaltava-o de forma abrupta e insistente.

Reparou que o sol se punha por detrás das árvores e resolveu sentar-se. Ficar ali até que uma ideia lhe iluminasse o caminho a seguir.

Sentou-se e notou que, apesar de na clareira já ser noite, todos os caminhos que se abriam para lá dela continuavam exactamente na mesma, como quando ali tinha chegado.

Cansado adormeceu.

Sonhou com todas as estradas e sobretudo com aquela que havia deixado.

Quando acordou olhou-as a todas com outra clarividência.

Pesou os prós e os contras, reflectiu sobre aquilo que pensava ir encontrar em cada um dos destinos, para além das suas aparências. Tomou-as apenas como isso, aparências e soube que, para além delas, outras coisas existiriam, mas também estava consciente de que, apesar disso, elas quereriam significar algo. Algo relevante, mesmo que fosse o contrário daquilo que mostravam.

Viu as sombras e os sóis, as flores e os pássaros, o rio assustador e a estrada soalheira. Acreditou que todos os caminhos lhe trariam sorrisos, mas sobretudo curvas e contracurvas, mesmo aqueles que lhe surgiam como mais apetecíveis.

Esperou, pensou, decidiu…

A escolha estava feita.

Não tinha certezas, longe disso, mas foi com um sorriso confiante que abriu asas e voou sobre a clareira…


 

 

 

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