quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Luar (IV)






(...)Cá fora, na rua, as pessoas continuavam alegres, coloridas, viviam aquela noite de verão claro como se fosse o último dia que estivessem na terra.


Ele olhava estupefacto para a sua janela, para a janela da sua casa minúscula, a janela da sala pequena onde tinha só um sofá, onde guardava as músicas e as letras que sempre lhe fizeram companhia e via-se a si próprio, rodeado por uma luz imensa, por figuras indescritíveis, seres de luz, seres que clareavam a escuridão que saia da sua sala, que tornavam que aquela sala diminuta se tornasse num foco de claridade, como se a lua cheia que naquela noite se desenhava tão claramente no céu, tivesse invadido o seu pequeno espaço.

Não entendeu se o que se passava era real ou se era apenas a sua mente que o iludia.

Reparou então que ao seu lado as pessoas alegres e coloridas que viviam aquela noite como se fosse a última, paravam a mirar a janela da sua sala, apontavam e soltavam exclamações abafados, os seus rostos já não estavam alegres, mas sim apreensivos.

Ele levou a mão ao rosto e sentiu-o macio, sem um pelo que fosse a assomar-lhe as faces, sentiu que na sua boca estalava um sabor adocicado e que no seu peito se abria uma sensação nova, tão longe das dores que sempre sentira.

Ouviu então um som uníssono, que saía das vozes das pessoas que tinham estado alegres e que agora estavam apreensivas e olhou na direcção da sua janela ainda a tempo de se ver saltar, de braços abertos, como se esperasse levantar voo. Atrás de si irrompiam labaredas que, podia jurar, tinham formas quase humanas, seguidas por uma grande bola que se assemelhava à lua que lá cima tudo iluminava.





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