terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Luar (III)



(...)Uma guinada mais forte fê-lo estremecer, soltou as mãos da sua cabeça e, inadvertidamente, tocou o copo vazio que estava ao lado do sofá. Ao quebrar-se o copo fez com ele abrisse novamente os olhos e despertasse da lassidão em que se vinha encontrando.


Assomou-lhe então um breve sorriso, próximo de um esgar incontrolável. A boca ainda lhe sabia mal, mas ele teve um lampejo daquilo que achou ser a lucidez.

Recostou-se no sofá, no único sofá daquela sala diminuta. Olhou à volta, descobriu os livros e os discos que estavam espalhados pelo chão, os sons e as palavras que tinha escolhido para si, havia já tanto tempo, ou assim lhe parecia.

Reparou então que estava às escuras e resolveu rodar o interruptor que ligaria a lâmpada eléctrica que estava dependurada de uma espécie de fio no tecto da sala. Quando o fez a lâmpada estilhaçou-se em mil pedaços, mas, apesar disso, uma luz surgiu, como se o tecto da sua pequena sala se tivesse aberto e pelo buraco jorrasse a energia de milhares de lâmpadas iguais à que se tinha quebrado.

Mais uma vez não compreendeu o que se passava, se aquilo era real, ou se à sua mente tinham voltado as figuras de luz, só que agora mais fortes, mais brilhantes, com um poder nunca visto ou sonhado.

Lá em cima viu que a lua, as figuras de luz que tinha criado na sua cabeça e ele próprio, se aproximavam mais da terra, da sua cidade, de sua casa. Então, numa explosão sem som, numa chuva de luz sem igual, penetraram na sua sala, naquela sala mínima da sua casa ínfima.

Descobriu-se a si próprio olhando incrédulo para aquela imensidão de luzes, sem perceber se o que se passava era real, ou se à sua mente tinham voltado as luzes que, pensava, só existiam na escuridão que tinha criado. (...)

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