domingo, 22 de janeiro de 2012
O Homem ao Contrário (II)
(...)Acenou-me com a mão esquerda, o que não sendo anormal, é pouco habitual, será canhoto, pensei, ou é apenas mais uma característica daquele homem ao contrário. Acenei-lhe de volta, não sei bem porquê, na realidade nunca o tinha visto e, certamente que tão estranha criatura nunca me passaria despercebida. Mas era-me agradável, mesmo sendo estranho, de qualquer forma não há incompatibilidade entre agrado e estranheza, acho eu, o poeta, que também era publicitário e muitas outras coisas também, já tinha dito que, primeiro estranha-se e depois entranha-se, o que não é bem a mesma coisa do que, primeiro estranha-se e ao mesmo tempo agrada-se, mas que, no essencial, quer dizer o mesmo, o facto é que aquela estranheza, aquela pessoa ao contrário, por muito estranha que me parecesse, me agradava, me dava um motivo para sorrir e achar que aquele dia luminoso de Outono se estava a tornar num dia muito mais agradável do que poderia supor, pelo simples facto de estar naquele jardim bonito, cheio de cores que me confortavam.
De repente o homem ao contrário tropeça numa pedra que estava no caminho e que ele não tinha visto, o que era normal, uma vez que estava de costas para a pedra. Insolitamente o homem ao contrário não caiu, deu uma espécie de salto para trás e subiu um pouco no ar, abriu os braços e, mantendo o seu sorriso intacto, deu um meio salto mortal para frente e voltou a colocar os pés no chão com uma calma que não julguei possível. O homem ao contrário parou então e virando-se de costas para mim, dirigiu os seus passos até ao banco onde eu me encontrava.
Levantei-me para ser simpático, não percebia bem como falaria para a nuca de alguém, mas, decerto que o homem ao contrário o saberia fazer.
Quando chegou perto de mim o homem ao contrário virou-se e mantendo o sorriso impecável começou a falar:
- ? ohlepse ues o uedrep sam, odomócni o em-eodrep, aid moB (...)
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