quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Alto (VI)

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Aos adultos não era permitida a permanência naquele reduto ímpar. Só mesmo o Ti Alfredo, o Ti Máximo e o Ti Zé, velhos guardas de jardim que nos atormentavam os dias, mas que, ao mesmo tempo nos mostravam histórias do arco da velha quando a acalmia surgia. O Ti Máximo e o Ti Alfredo saíram cedo dali, o Ti Zé ficou mais tempo, não conseguia correr atrás de nós. Era manco e a sua velha bengala de madeira não o ajudava muito. Mas eram nossos amigos e assim ficaram, mesmo depois de todas a tropelias, depois de todas as zangas, dos impropérios de uns e outros. O Ti Zé gostava de nos contar histórias da sua terra e foi ficando mesmo depois de todos nós termos partido. Um dia cansou-se e resolveu ir também, procurou a morte antes dela o ter chamado.
No Alto nem todos podiam entrar, não que tivesse portas, ou gradeamentos, nem qualquer entrave físico, apenas porque o acesso aquele mundo pequeno só era permitido a quem lhe pertencesse. E não era fácil ser por ele aceite.
Lembramo-nos de muitos que por lá passavam e de alguns que se atreviam a sentar-se nos seus bancos, mas ele sabia bem quem por lá podia ficar e não tardava a afugentar quem não merecia. Todos nós sabíamos que assim era e seguíamos-lhe os desejos, porque assim sabíamos também em quem confiar e de quem desconfiar.
Quando atingimos a idade em que os armários se abriram resolvemos sair do Alto, sem dúvidas, porque é nessa altura que todas se esbatem. Pensamos nós.
E depois disso ninguém mais lá parou e o Alto começou a definhar, pelo menos perante os olhos de quem não o conhecia.
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