Nunca te conheci, nem tu a mim…
Nunca me apareceste, nunca me seguraste a mão, nem me olhaste nos olhos.
Procurei-te muitas vezes, pelos caminhos que percorri, dentro dos medos que tive, no meio dos escombros em que me encontrei.
Sei que também andaste por lá, por esses escolhos que nos trouxeram até aqui, pelas demandas em que nos perdemos, sem nunca nos vermos.
Chamei-te vezes sem conta e nunca te ouvi resposta. Penso que o mesmo aconteceu contigo.
Ainda me dói hoje, quando te sonho, em sonhos que se esfumam em fumos escuros, sem nunca me dar descanso, sem nunca te saber…
Nunca te vi, nem tu a mim…
Nunca vi a cor dos teus olhos, o calor das tuas mãos, a tua silhueta.
Embora te tenha perdido sem nunca te encontrar, sei que se me tocasses o mundo seria de outra forma. Mais perfeito naquela imperfeição que todos conhecemos. Mais doce, naquela amargura que todos esperamos. Mais colorido naquela escuridão que a todos persegue.
Sei que nos iríamos entender, sem palavras, sem gestos sequer, apenas com os olhares, evidentemente, cúmplices, mesmo daqueles que saberíamos obter quando os nossos olhos estivessem fechados.
Sei estas coisas, como decerto tu também saberás. Como sei que nos iríamos zangar vezes sem conta, por que é assim que tem que ser. Mas apenas para podermos regressar um dia a nós próprios. Mais inteiros, mais completos nas nossas insignificâncias. Mas felizes por podermos ser nós.
Apenas nós. Como devia ser.
Mas eu nunca te encontrei, nem tu a mim…
E hoje fico assim, com um buraco aberto, sangrento, imenso, na minha alma incompleta.
À espera que me digas, estou aqui, sou eu. Mesmo que nunca nos tenhamos olhado nos olhos, sabemos que somos os dois, inventados numa realidade que não queremos verdadeira, porque essa, essa é aquela que nunca existiu.
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