Vagueio numa espécie de neblina. Num mundo translúcido onde ninguém me pode alcançar. Passo por muitos lugares. Lugares que conheci e outros onde nunca tinha estado.
Passo por aqui sem pesos nem dores. Como se uma leveza me trouxesse pela mão e me deixasse pairar enquanto o tempo não passa. Aqui o tempo nunca passa.
Vou-me deixando ficar. Naqueles sítios em que, apesar de toda a névoa me rodeia, o sol ainda vai aquecendo vontades.
Não sei se hei-de acreditar em tudo o que vejo e ouço. Parecem-me coisas demasiado cruéis, aquelas que se desprendem das mentes das pessoas com quem me cruzo. Sentimentos errados. Vinganças, azedumes, crispações e medo, muito medo.
Vejo um mundo carregado de rostos amedrontados, mesmo naqueles que não me vêem, que são quase todos, pelos menos até chegar a sua hora.
Sei que, quando me conseguem ver, olhar bem no fundo dos meus olhos, o medo se vai e seguem-me como se não houvesse outra escolha, como se o meu caminho fosse o último. Depois libertam-se de mim e passam a vaguear por si próprios. Também a esses uma neblina permanente se prende.
Mas eu sei que é em mim que depositam todas as expectativas. É a mim que todos acabam por chegar e, nessa altura, só nessa altura, dizem as derradeiras palavras:
Eu acredito em ti!
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