terça-feira, 10 de maio de 2011

O Alto (III)

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Ainda lá vão, todos eles, mesmo que alguns já tenham partido, que quase todos tenham partido.
Porque a vida que escolheram, as estradas que percorreram e que os levaram tão longe daquele lugar, nunca lhes conseguiu retirar a magia de momentos únicos e eles sabem, mesmo os que nunca lá voltaram fisicamente, que o Alto lhes deu tudo o que desejavam e que isso era o maior tesouro que poderiam ter encontrado.
Há quem por lá passe, em dias de um completo sossego e jure que vê as árvores dançar e ouve risos de crianças quando não há nenhuma à vista.
Restos de infâncias felizes. Ou então a contínua repetição da infância, porque uma infância só será verdadeiramente feliz se a prolongarmos até à velhice e melhor ainda se a conseguirmos continuar para além deste mundo.
O Alto, como tantos outros altos neste mundo, está moribundo. Já só se vê a si próprio como um despojo daquilo que foi, parece que mirrou, se tornou pequenino, engelhado, como aqueles que ainda lá continuam a ir, mas que não o sabem, não o conhecem, não lhe ouviram as histórias, os segredos, nunca lhe viram as ruas secretas. Às vezes o Alto sorri e alguém sorri com ele, mas hoje são mais as vezes em que deita uma lágrima fugidia, porque houve mais alguém que se foi, e ele sabe, ele sente essas fugas não desejadas, mas impossíveis de impedir. O Alto é já muito velho, mais velho do que aqueles que o encheram de alegrias, de correrias e momentos únicos. Há ainda alguém que lhes conhece os meandros mais escondidos e, quando acontece um dia desses, o Alto abre as suas portas e deixa que o revejam como já foi. Nesses dias os risos soam altos, as correrias são intensas, tudo ganha uma vida nova, mesmo que mais ninguém o consiga perceber. É assim o Alto e aqueles que o sabem conhecer.
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