quinta-feira, 20 de maio de 2010

O último nível


O suor escorria-lhe pela fronte.
O olhar estava tão tenso quanto todos os músculos do seu corpo. Só os dedos mexiam. Nervosa e ininterruptamente . Bem como o cérebro, que disparava energia a cada milésimo de segundo.
Não conseguia desviar o olhar. Estava concentrado até ao limite. Nada lhe conseguiria desviar a atenção daquilo que estava à sua frente. Era altura de mudar de nível. Porque é isso que interessa. É isso que dá adrenalina. É isso que faz viver. É por isso que vale a pena viver.
Mudar de nível. Melhor... Subir de nível. Aumentar de nível.
Mais alto. Mais forte. Até ao infinito e mais além.
O frenesim é imenso. Nada mais existe. O objectivo está já ali.
Não falhar. Nunca falhar. Jamais. Está quase...
Já está.
Subiu de nível.
Euforia.
Olha à sua volta. Vitorioso. Chegou ao penúltimo nível.
Sem falhar. E ninguém para reparar.
Está sozinho. No penúltimo nível. Sozinho. Nunca ninguém tinha chegado tão alto.
Olhou então para baixo e viu que por lá havia pessoas felizes. Que se partilhavam, que sorriam. Nos níveis mais baixos. E que pareciam não se importar em lá estar.
E ele ali. No nível mais elevado. Sozinho.
E não podia descer. Sem cair. Sem recuar. Sem poder voltar atrás.
Ali estava. Sozinho.
Decidiu então.
Abriu a janela. Abriu os braços e foi...
Nunca uma brisa lhe tinha sabido tão bem.
Apesar de estar tão alto a descida foi rápida.
No momento em que o seu corpo bateu no chão, ele já ali não estava. Tinha atingindo o último nível.

Sem comentários: