quinta-feira, 14 de outubro de 2010

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(...)O último desejo de um condenado. Ah, como gosto de ser lírico nestes momentos desesperados. Com um leve toque de humor negro. Do que não faz gargalhar, mas liberta um sorriso cúmplice, daqueles que só mais inteligentes sabem ganhar.
Eu nunca me considerei inteligente. Curiosamente aqueles que me conheceram mal sempre acharam que eu o era. Na verdade não era. Talvez os enganasse porque já tinha lido muito, sabia de cor rios e montanhas, citações que poucos sonhavam e até os nomes de todos os reis. Mas isso não era sinónimo de inteligência. Talvez de paciência. De observação. Uma mão cheia de inutilidades, que serviam para concursos televisivos, mas que se revelavam inúteis no mundo real.
Consegui ganhar uma aura de intelectual, embora duvidasse que tal se conseguisse manter perante alguém que, de facto, fosse inteligente. No fundo mascarei-me de sabedor de coisas só para enganar os incautos. E há tantos incautos à nossa volta. Daqueles que se deixam levar por dois dedos de conversa fácil e um sorriso cativante.
Não que os quisesse enganar, nunca quis. Mas era assim que eu funcionava, com a dose certa de charme e com a sabedoria de cordel que não resistiria a um escrutínio mais elaborado.
Um fogo-fátuo. Sim, acho que era uma espécie de fogo-fátuo. Bonito mas efémero. Demasiado efémero.
(...)

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