quarta-feira, 9 de junho de 2010

(...) - 30

(...)Não passou assim tanto tempo.
Tempo.
Na verdade o tempo é a coisa mais efémera que existe.
Há tão pouco tempo era um jovem com um sorriso maroto e uns olhos meigos, pelo menos assim mo diziam. Aquelas que se iam derretendo à minha volta. Ah sim, porque tive várias apaixonadas, daquelas que duram uma semana, ou uma hora, mas sim, tive.
Sabia ser simpático, colocar a voz no timbre certo, fazer aquele olhar que derrete et voilá.
Mas nunca fiquei muito tempo. Era mais um toca e foge. Seduzia-me a sedução. O jogo do gato e do rato, a caça, mas nunca a presa.
Por isso fui ficando sozinho. O sorriso perdeu vivacidade, os olhos meigos tornaram-se mortiços e a voz enrouqueceu.
Já não sei caçar, nem sei se quero. Na verdade era um jogo inseguro, apenas gostava que me afagassem o ego.
Hoje o ego fugiu. Não o vejo há muito tempo. E tudo isto foi um fogacho. Um segundo, um fósforo queimando à velocidade da sua luz.
Sozinho fiquei, sozinho estou. Se não fosse ela ficaria condenado a falar sozinho. O que, de qualquer forma, nunca me desagradou.
(...)

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