segunda-feira, 23 de novembro de 2009

histórias de Rosa Branca


XVIII

Enquanto se dirigia para o café, Violeta apertou contra si o antigo manuscrito que num dia, aparentemente já esquecido, Santiago lhe tinha dado a guardar, dizendo que nunca o mostrasse a ninguém até que o dia chegasse. Hoje, pensou Violeta, é o dia.
E releu-o pela milésima vez:

Debaixo do chão viviam os outros, os que não se atreviam a subir. Aqueles para quem o sol estava interdito. Debaixo do chão construíram a sua vida, a sua cidade, o seu sonho e nunca saiam à superfície, porque na superfície vivia o mal que a todos culpava, que a todos olhava com o seu único olho, feito de fogo e lava, feito de fel e amargura, feito de chuva e ventos.
Na superfície reinava o terror, mesmo que os de cima nunca o vissem, mesmo que os de cima não acreditassem, mesmo que os de cima continuassem cegos perante a dor, perante a tristeza, perante a vida.
Debaixo do chão, apesar da escuridão aparente, as luzes nunca se apagavam e o frio nunca chegava, porque debaixo do chão estavam aqueles que conheciam …


Começou então a correr...

(continuará)

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