Todos nós temos conchas às quais nos vamos afeiçoando com maior ou menor prazer, com mais ou menos vontade. Se bem que haja quem quase não as note, por andar muito entretido com a sua própria prosápia e tentativa de se evidenciar perante os outros, há também quem nela se refugie amiúde e com vontade nenhuma de lá sair. Podem ser conchas duras, impenetráveis, daquelas que chegam a ser à prova de fogo, ou então só aparentemente isso.
Também eu tenho concha. Anda sempre comigo. Às vezes mal se vê, ou pelo menos assim julgo. De outras é tão enorme que dificilmente passa despercebida. Serve-me para ficar comigo mesmo, para me ir percebendo, para, até, fugir daquilo que me atormenta, ou então para me ajudar a derrubar alguns dos muros que teimam em atravessar-se no caminho.
Sei que preciso dela, sei que nunca a hei-de deixar fugir, tornou-se uma boa companheira e, na verdade, nunca me faltou, nunca me desiludiu, embora, reconheça, às vezes me apareça abruptamente.
E não, não me julgo crustáceo por cauda disso, aliás, esta concha é tão moldável que raras são as pessoas que já a viram, embora algumas dela desconfiem.
No fundo mais não é que um esconderijo, onde gosto de me resguardar e, se possível, apreciar alguns momentos bons e reconfortantes, algumas memórias queridas como, por exemplo, a desta música tão a propósito…
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