A noite estava quente.
No céu escuro recortava-se uma lua cheia perfeita. Um círculo de um branco imenso.
Na rua não se via vivalma.
A medo, ele afastou a portada da janela de sua casa e espreitou lá para fora.
Sabia que a hora se aproximava e hoje, tal como nos outros dias, sentia o medo apoderar-se dele.
Gotas de suor desprendiam-se das paredes velhas daquela cidade sem idade. Em todas as casas as luzes estavam apagadas. Todos sabiam o que iria acontecer e ninguém queria estar por perto quando tal sucedesse.
Lá no alto a lua parecia estar a aproximar-se. Quem se atrevia a espreitar a negritude da noite, poderia confirmar que quase todo o céu estava agora coberto pela incrível lua cheia que todos pareciam temer.
O calor aumentava. Apesar de um ar irrespirável ninguém se atrevia a abrir uma janela, a escancarar uma porta.
Sorrateiramente ele obrigou-se a entreabrir a porta da rua. Lutando com uma força superior à sua vontade, saiu.
A sua audição tornou-se mais acutilante.
Conseguiu perceber os passos sorrateiros que se aproximavam e viu distintamente que uma imensidão de olhos rubros o fitavam para lá da escuridão.
O apelo tornou-se então irresistível.
Fechou a porta atrás de si e avançou, sem receio, para o meio da rua. Assim que começou a descê-la calmamente, sentiu que eram vários os passos que o acompanhavam, furtivos.
Quando a confiança o alcançou partiu numa corrida desenfreada.
Quando chegou ao centro da praça parou.
Viu-os aproximarem-se e não sentiu qualquer tipo de temor.
Quando se acercaram dele e o rodearam, ele soube o que fazer.
Olhou a lua como nunca e soltou, do fundo do seu ser, o mais intenso uivo de que foi capaz.
Todos os outros se uniram a ele.
Foi com um sorriso intenso que partiram à desfilada.
Aquela era a noite ideal para a caçada.
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