Tenho saudades. Daqueles que conheci e mesmo daqueles que nunca vi.
Dos sorrisos sinceros e até dos amarelos.
De correr atrás dos autocarros, como quem persegue o fundamental.
De parar nas esplanadas só para misturar vozes e desejos.
De nos sentarmos debaixo das árvores e deixar que os pardais nos viessem comer à mão.
Tenho tantas saudades nossas.
De todos nós, os que por aqui estiveram e partiram sem novas. Dos outros que desapareceram numa voragem sem retorno, sabendo que outros caminhos surgiriam e que a vida não espera por ninguém e também dos que foram ficando, esperando que novos trilhos pudessem estar à sua espera.
Faltam-me esses dias de sol, mesmo quando grossas gotas de uma tempestade furiosa nos cobriam os cabelos de transparências que nunca quisemos perder.
Fico nostálgico quando me lembro das brincadeiras infantis e das outras. Dos abraços roubados a medo e de algumas fúrias seladas com lágrimas.
Das trocas de olhares em que nos confundíamos. Dos segredos partilhados com juras inconfessáveis.
Tenho saudades vossas.
Das imortalidades que sabíamos nunca conseguir, mas que jurávamos sem receios, sem temores, porque o mundo estava apenas no seu inicio e a estrada era tão longa que nunca lhe conheceríamos o fim.
Das voltas e reviravoltas inesperadas, dos momentos únicos que partilhámos todos os dias, mesmo quando os repetíamos (in)conscientemente.
Das espreitadelas cúmplices a decotes mais generosos. Dos beijos receosos, de uma mão atrevida que era devolvida com grande estrondo.
Penso até naqueles mais velhos que, graciosamente, nos davam conselhos que nós sabíamos não seguir e que hoje devolvemos com juros, porque nunca imaginámos que seríamos assim.
A nossa vida estava logo ao virar daquela esquina e parava no fim da outra rua.
Tenho saudades daqueles que ficaram, que não quiseram continuar ou que, simplesmente, não puderam.
Das fotografias que tirámos e que hoje guardamos em memórias sépia, que vão escurecendo até que por fim desaparecem.
Tenho muitas saudades. De todos vós e de mim também.
Quem me dera que aqui estivessem todos agora.
Quem me dera que eu ainda aqui estivesse …
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