(...)Já se vê a Lua.
Está cheia. É dia de lobos. De uivos. De coisas tenebrosas. Eu gosto delas. E de noites assim. Claras.
Com uma imensa Lua a mostrar-nos os caminhos. Pena que nunca os tenha seguido. Na verdade nunca segui os caminhos que quis. Nunca cumpri um desejo que fosse. Nunca percebi qual o caminho a seguir.
E fui andando sem saber como. Simplesmente porque o tempo não pára e um dia vem depois do outro. E a velocidade vai aumentando, isso sim, a idade ensinou-me, e nada me conseguirá convencer do contrário. O tempo corre mais célere à medida que vamos envelhecendo. Dizem-me que não, que é mais apenas uma fantasia. Mas eu sei que não é. Eu sei que os dias de hoje andam mais depressa que todos aqueles em que fui criança e adolescente. No liceu começaram a acelerar. Disso também me lembro. Talvez porque nos aproximamos do não retorno. É aí que tudo se decide. Ou avançamos, ou não. Na verdade não conheço, pessoalmente, ninguém que não tenha avançado. Mas já ouvi falar deles. Gostava de encontrar um deles, tenho uma enorme curiosidade. Sei que não posso voltar atrás, mas gostava de saber como era. E não é apenas simples curiosidade, é quase uma ânsia juvenil. Uma necessidade de sobrevivência. Um desejo. Afinal sempre tenho desejos.
(...)
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