sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O berlinde vermelho berrante


O Tadeu costumava vir brincar connosco, ou, pelo menos, tentava.

Todas as manhãs vinha, sorrateiro, sentar-se junto a nós no caramanchão que ficava no meio do jardim. Nunca falava mas ria-se muito das piadas que dizíamos, trazia sempre o seu saco de berlindes coloridos mas nunca se atrevia a jogar connosco, embora todos lhe disséssemos para o fazer, todos menos o Baltazar que nem para ele olhava.

Naquela manhã o Tadeu estendeu-me o seu saco de berlindes coloridos e, a medo, disse-me, escolhe um, eu sorri-lhe e escolhi um vermelho berrante, agradeci-lhe e, nesse dia, só joguei com o berlinde vermelho berrante. Ganhei sempre.

No fim do dia dei o berlinde ao Baltazar. Ficou admirado, porque seria que eu lhe estava a dar o berlinde que o Tadeu me tinha oferecido? Eu não lhe disse nada, peguei – lhe na mão e nela coloquei o berlinde. Depois virei-me para o Tadeu e dei-lhe o meu berlinde da sorte, o amarelo. Fui para casa.

Na manhã seguinte os berlindes começaram a rolar cedo. O Baltazar ia ganhando todos os jogos com o berlinde vermelho berrante. O Tadeu ali estava, olhando para o jogo com o berlinde amarelo na mão.

O Baltazar chamou-o e disse-lhe, joga connosco. O Tadeu, quase a medo, lá se ajoelhou junto a nós e quando se preparava para lançar o berlinde amarelo o Baltazar, sorrindo, estendeu-lhe o berlinde vermelho berrante e disse-lhe, joga antes com este.

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