O Tadeu costumava vir brincar connosco, ou, pelo menos,
tentava.
Todas as manhãs vinha, sorrateiro, sentar-se junto a nós no
caramanchão que ficava no meio do jardim. Nunca falava mas ria-se muito das
piadas que dizíamos, trazia sempre o seu saco de berlindes coloridos mas nunca
se atrevia a jogar connosco, embora todos lhe disséssemos para o fazer, todos
menos o Baltazar que nem para ele olhava.
Naquela manhã o Tadeu estendeu-me o seu saco de berlindes
coloridos e, a medo, disse-me, escolhe um,
eu sorri-lhe e escolhi um vermelho berrante, agradeci-lhe e, nesse dia, só
joguei com o berlinde vermelho berrante. Ganhei sempre.
No fim do dia dei o berlinde ao Baltazar. Ficou admirado,
porque seria que eu lhe estava a dar o berlinde que o Tadeu me tinha oferecido?
Eu não lhe disse nada, peguei – lhe na mão e nela coloquei o berlinde. Depois
virei-me para o Tadeu e dei-lhe o meu berlinde da sorte, o amarelo. Fui para
casa.
Na manhã seguinte os berlindes começaram a rolar cedo. O
Baltazar ia ganhando todos os jogos com o berlinde vermelho berrante. O Tadeu
ali estava, olhando para o jogo com o berlinde amarelo na mão.
O Baltazar chamou-o e disse-lhe, joga connosco. O Tadeu, quase a medo, lá se ajoelhou junto a nós e
quando se preparava para lançar o berlinde amarelo o Baltazar, sorrindo,
estendeu-lhe o berlinde vermelho berrante e disse-lhe, joga antes com este.
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