quarta-feira, 3 de novembro de 2010

(...) - 38

(...)Recomeçou a chuva. No horizonte o sol espreita timidamente. A manhã nasce.
Eu também.
Como nasci há tantos anos. Naquela manhã chuvosa de uma primavera que se anunciava. Não me lembro, a minha memória não chega tão longe.
Tantos anos passaram já e tão poucos na verdade, para quem nunca encontrou o caminho. Se é que, afinal, há caminhos para serem encontrados.

Sempre pensei que ela viesse com a noite. Pela sua calada. Acompanhando as sombras. Mas isso devem ser histórias de assustos. E ela deve pensar que já não sou nenhum menino. Engana-se contudo. Porque sou. Nunca deixei de ser.
Um Peter Pan disfarçado. Numa Terra do Nunca que nunca se manifesta realmente. Sei que nunca cresci completamente. Houve sempre aquela pequena criança que nunca me deixou. Com os seus receios, com as suas ternuras. Com os olhos tão abertos perante o desconhecido que, afinal, nunca chegou, verdadeiramente, a conhecer. Talvez nunca tivesse chegado a ser o Pan, talvez se tenha ficado apenas por um menino perdido, algures entre o aqui e aquilo que nunca quis abandonar.
Agora é tarde para perceber, para aceitar, para declarar.
(...)

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