No JN de hoje:
«Carmona constituído arguido
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues, foi notificado para ser ouvido, na próxima semana, pelo Ministério Público na qualidade de arguido, no âmbito do processo Bragaparques, confirmou, ontem à noite, à agência Lusa fonte judicial.»
Afinal parece que o Presidente da Câmara de Lisboa também se meteu num túnel, ou será que é mesmo um buraco sem saída?
sexta-feira, 27 de abril de 2007
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Obras
Há pouco, na rádio, ouvi uns quantos cidadãos a referirem-se ao túnel do Marquês. Todos eles o adjectivaram como "uma grande obra", "uma obra muito bonita", "uma excelente obra".
E dei por mim a pensar, pegando num dos acontecimentos que marcaram este dia há anos atrás, o que pensariam estas pessoas se lhes perguntassem sobre a obra que Picasso dedicou a Guernica? Será que os adjectivos seriam os mesmos?
Creio, com pena, que não!
Em termos estéticos o comum dos mortais (portugueses, neste caso) admira mais um qualquer "buraco", que uma tela de um grande pintor!
Para a maioria, o trabalho de um engenheiro (mesmo quando há dúvidas em relação ao seu diploma) vale mais que o de um artista plástico, que não percebem muito bem para que serve.
Questões de mentalidade estética... ou será estática?
E dei por mim a pensar, pegando num dos acontecimentos que marcaram este dia há anos atrás, o que pensariam estas pessoas se lhes perguntassem sobre a obra que Picasso dedicou a Guernica? Será que os adjectivos seriam os mesmos?
Creio, com pena, que não!
Em termos estéticos o comum dos mortais (portugueses, neste caso) admira mais um qualquer "buraco", que uma tela de um grande pintor!
Para a maioria, o trabalho de um engenheiro (mesmo quando há dúvidas em relação ao seu diploma) vale mais que o de um artista plástico, que não percebem muito bem para que serve.
Questões de mentalidade estética... ou será estática?
Ler (pouco)
No Público de hoje:
«(...) segundo os dados do estudo Consumidor 2006,que a Marktest divulgou a meio da semana passada, já são mais de três milhões os portugueses que lêem livros (ou, mais exactamente, que leram um livro no mês anterior ao telefonema da Marktest) (...)
No Reino Unido, por exemplo, um inquérito da BBC feito no ano passado revelou que 79 por cento dos britânicos consideram a leitura uma actividade essencial (...)»
Logo, 30% dos portugueses afirmam ler, é um sinal positivo! Mas então os outros 70% que não o fazem?
Como interpretar esta noticia como positiva se a comparamos com os números do Reino Unido?
Para nós, portugueses, ainda parece que ler é algum luxo! E se nos lembrarmos que, há apenas 6 anos, havia 9% de analfabetos?
É sintomática a constatação de que ainda preferimos visitar túneis rodoviários a ler um livro!
A anedota continua! E continua a ser de muito mau gosto!
Pela paz!
A liberdade no "buraco"
terça-feira, 24 de abril de 2007
25 de Abril
E se logo mais à noite, por alguma razão que a própria desconhecerá, conseguíssemos sintonizar os Emissores Associados de Lisboa, também conhecidos por Postos Pequenos, e pelas 22h e 55m a voz de João Paulo Diniz nos anunciasse que a próxima canção seria E Depois do Adeus por Paulo e Carvalho?
E se mais tarde na noite, aí pelas 00h e 20m, mudássemos para a Renascença, para ouvir o programa Limite e escutássemos Manuel Tomás a recitar a primeira estrofe de uma canção de José Afonso, Grândola Vila Morena e, imediatamente a seguir, a escutássemos?
E se amanhã, pela tarde, José Sócrates estivesse "cercado" no Quartel da G.N.R. situado no Largo do Carmo?
E se pudéssemos ver e ouvir Miguel Sousa Tavares, em cima duma guarita, a falar às "massas" no mesmo Largo do Carmo?
O 25 de Abril estaria, de novo, a cumprir-se?
Talvez!
Pena é não haver outro Salgueiro Maia por aí!!!
segunda-feira, 23 de abril de 2007
Cantava-se O Verão em 1968!
Ontem começou na RTP uma nova série portuguesa, Conta-me Como Foi, passada num bairro duma Lisboa calma, pacata e algo parada naquele ano de 1968; notando-se, no entanto, alguma dose de uma poesia e encanto, entretanto definitivamente perdidos, na sociedade portuguesa.
A história é-nos contada através das palavras do elemento mais novo de uma família "remediada" de então, onde pontificavam os pais típicos da altura, a avó rezingona, mas boa pessoa, e dois irmãos na fase de juventude rebelde "à portuguesa".
Ressalta, sobretudo, um mundo de um cinzento colorido, que marcava muito aquela época num Portugal, em guerra, que se preparava para assistir ao tombo, literal, de Salazar. O orçamento familiar era diminuto, vivia-se num 1º andar "arranjadinho", num bairro "limpinho", com o café, o quiosque, a cabeleireira, o lugar de frutas, a padaria ou, se o bairro fosse "avançado", um mini-mercado. E frequentava-se a escola primária local, ou o liceu mais próximo, onde se decorava toda aquela parafrenália de coisas que o Estado Novo gostava que as pessoas aprendessem. Mas brincava-se na rua, havia sempre um descampado onde se podiam chutar umas bolas, ou jogar ao berlinde e algum "buraco" onde se liam as revistas aos quadradinhos. As mães eram, quase todas, domésticas e os pais só voltavam a casa já noite cerrada. O jantarinho estava na mesa sempre à mesma hora. O aparelho de rádio ainda imperava lá em casa, sintonizado na Renascença, ou na Emissora ou no Rádio Clube. Os automóveis eram poucos e caros e mesmo os aparelhos de televisão não eram muito comuns. O grande entretenimento nacional que, verdadeiramente, interessava a toda a família era o Festival da Canção.
E foi assim que eu vi o primeiro episódio desta nova série, com um misto de curiosidade histórica e nostalgia por um tempo que também vivi, quando era um pouco mais novo que o protagonista.
Foi assim que dei por mim a sorrir perante a cena final deste episódio, quando assisti com aquela família, na sua recém instalada televisão, à vitória de Carlos Mendes no Festival de 1968, com uma das canções que, ainda hoje, considero como das mais bonitas que a música ligeira portuguesa nos ofereceu, O Verão!
Gostei deste inicio, senti-me como fazendo parte daquela história, que, mesmo tendo em conta o período histórico que se vivia, não deixava de ter uma dose, forte, de uma felicidade algo contida mas indisfarçável, talvez adivinhando futuras quedas, de cadeiras e de regimes!
No próximo domingo lá estarei, à espera do episódio nº2!
Livro!
Todos os dias são dias de alguma coisa, em todos os dias se comemora alguma coisa. Hoje é o Dia Mundial do Livro. Mesmo tendo em conta, que muitas vezes estes "dias especiais", mais não servem para se falar de coisas a que não tomamos atenção no resto do tempo, parece-me que, neste caso, se reveste de uma importância muito especial, porque o dedicamos a um objecto de prazer particular.
É um dia em que, juntamente com os outros 364, dedico algum tempo aos livros e às leituras, porque não sei, não posso e não quero passar nenhum dia sem ler, um dos últimos, verdadeiros, prazeres a que podemos aceder sem grande (aparente) dificuldade.
O livro continua e continuará, assim espero e creio, a ser o veículo principal onde podemos embarcar a nossa imaginação, vogarmos por caminhos únicos, para nos deixarmos enredar por histórias maravilhosas, fantásticas, de sonho e até de pesadelo. Todos os livros merecem ser lidos, uns mais que outros é certo, mas o livro é, por excelência, o objecto mais democrático e libertador que, porventura, existe.
Agora já temos os E-books e começam a difundir-se, por cá, os audio-livros, com grande tradição no Reino Unido( óptimos para quem não tem possbilidade de ler de outra forma). Mas é no papel, na possibilidade de folhear, de cheirar as páginas, de passar os dedos pelas letras, que reside muita da magia que o livro nos transmite.
Hoje, como ontem e amanhã, vou pegar num livro e deixar-me levar por aquilo que ele me contar e, tenho a certeza, vou sentir-me muito bem com isso!
sexta-feira, 20 de abril de 2007
The Divine "matraquilhos"
O susto!
Tintin na Terra Média?
Como já foi amplamente noticiado, a Dreamworks de Spielberg, vai produzir uma série de filmes baseados nas Aventuras de Tintin. Conforme, dizem, consta do contrato, este realizador terá de dirigir o primeiro filme a ser feito. O mesmo não irá, provavelmente, acontecer com os que se seguirem.
Para o segundo filme, tornam a dizer, estará já na calha Peter-Senhor dos Anéis-Jackson. O que, na minha opinião de confesso admirador de Tintin e do Senhor dos Anéis, se revela como uma excelente noticia.
Aguardemos então...
quarta-feira, 18 de abril de 2007
O clique
Quando ouço, pela primeira vez, uma música; quando tomo o primeiro conhecimento com uma banda; sei, quase imediatamente, se irei gostar muito, pouco, ou nada. Acontece que sinto um "clique", algo que me diz, no momento, se aquela banda, se aquelas músicas, me irão acompanhar sempre com o mesmo agrado inicial e se se irão prolongar no prazer, crescente, com que as vou continuar a ouvir.
Sucedeu isso, por exemplo, com os Genesis (há muito tempo), com os Prefab Sprout, com a Dave Matthews Band e, muito particularmente, com os Divine Comedy.
Vem isto a propósito de uma audição, nova, que venho fazendo há alguns dias. O disco chama-se Funeral e a banda Arcade Fire. Sei que já estou um pouco desactualizado, uma vez que um novo disco desta banda, Neon Bible, acabou de ser editado. Mas comecei pelo inicio, que é uma boa maneira para começar, acho eu. Aclamados pela crítica, criaram-me grandes expectativas e estava, é certo, à espera de sentir o tal clique. Mas não senti...
Estou, no entanto, a gostar bastante de descobrir este disco. Melhora a cada nova audição. Talvez o clique ainda surja, mas não irá ser, certamente, a mesma coisa.
De qualquer forma, mesmo que não fiquem no "altar" dos imprescindíveis, sempre ficarão na primeira fila dos obrigatórios.
Tintin (ao) vivo...
terça-feira, 17 de abril de 2007
A magia fantástica continua viva...
Começou a ser escrito há 89 anos e é hoje publicado. Os Filhos de Húrin é o "novo" livro de J.R.R.Tolkien. Por aqui se ficará a saber um pouco mais sobre a Primeira Era do mundo; se conhecerão, ainda melhor, os seus primórdios, as histórias e mitos que lhe deram consistência. Aqui nos poderemos, outra vez, maravilhar com uma imaginação superior, com uma capacidade ímpar para a criação de uma realidade que ultrapassou as suas próprias fronteiras. Arda fica assim mais compreensível e podemos perceber, ainda melhor, como o seu criador nos levou nestas asas de um sonho que se consubstanciou, admiravelmente, no Senhor dos Anéis.
Christopher Tolkien, verdadeiro sucessor de seu pai nas letras e nas memórias da Terra Média, oferece-nos agora mais esta oportunidade de nela podermos mergulhar com o agrado e a vontade de sempre. Depois de ter "acabado" e publicado O Silmarillion e Os Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média, depois de ter compilado todos os rascunhos e versões alternativas na monumental History of Middle-Earth, Christopher (hoje com 82 anos) mostra-nos desta vez, com Os Filhos de Húrin, como a Terra Média, os seus povos e a sua História, nunca irão desaparecer das nossas histórias fantásticas e, sobretudo, da nossa memória.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
O flautista de Blackpool
Neste fim de semana, ao ligar o rádio, surgiu-me dos "confins" do tempo um som que já não ouvia há uma "eternidade". Mas foi um agradável recordar de outras músicas, de outras alturas, em que o meu gosto musical era muito menos diversificado, resumia-se, quase só, àqueles grupos que giravam em torno do rock progressivo. E este também por lá andava, embora fosse um pouco mais versátil que isso. Misturava um certo folk tradicional inglês, com um espécie de jazz-rock e um pouco de rock pesado, no fundo era isso que fazia o som progressivo.
Foi, pois, com agrado que reouvi estes Jethro Tull, de quem, afinal, até tinha saudades e até voltei a pegar nos LP's e a pô-los a tocar no "gira-discos".
Guardo aquelas que considero as melhores obras do grupo, Thick as a Brick; Songs from the Wood; Heavy Horses e o fabuloso duplo ao vivo, Bursting Out.
Excelentes canções nos davam Ian Anderson e os seus, muitos, acompanhantes. Ainda hoje me surpreendo com a flauta de Anderson e de como ele conseguia falar ao mesmo tempo que tocava.
sexta-feira, 13 de abril de 2007
Profissão: Repórter
Nome: Tintin; profissão: Repórter.
Há quem "acuse" Tintin de ser um repórter que nunca escreveu uma reportagem.
E não precisou. Tintin mostrou-nos todo o mundo, continentes, oceanos e até a Lua. Deu-nos a conhecer outras culturas, outras maneiras de ser, modos de viver e costumes diferentes; toda a História do século XX.
Deu-nos aventuras deliciosas, momentos de emoção fortes, gargalhadas infindáveis, muita amizade e sobretudo um imenso encantamento. Tudo em formato de Grande Reportagem!
De qualquer forma é errado dizer-se que Tintin nunca escreveu uma linha. Na sua primeira aventura, No País dos Sovietes (livro nunca reconstruído a cores, como todos os outros), podemos testemunhar a escrita do repórter.
quinta-feira, 12 de abril de 2007
Dúvidas académicas
Ouvi dizer que o Mário Soares frequentou um colégio que era propriedade da sua família; que o D. Afonso Henriques era analfabeto; que o Camões não era licenciado; que o Vasco da Gama não tinha nenhum mestrado; que o Marquês de Pombal, apesar da reconstrução de Lisboa lhe ser atribuída, não era arquitecto; que o Álvaro Cunhal acabou o seu curso na prisão e que afinal não é preciso ser doutor ou engenheiro para ser primeiro ministro!
Ele há coisas!!!!!
Ele há coisas!!!!!
quarta-feira, 11 de abril de 2007
Sorriso amarelo
terça-feira, 10 de abril de 2007
Os imortais
Há exactamente 37 anos, Paul McCartney anunciava o fim dos Beatles. Depois de mais de uma década a fazerem a melhor música do mundo, a criarem aquilo que nunca ninguém tinha conseguido, a inovarem os sons da música popular e, sobretudo, a maravilharem todos os que tiveram oportunidade de a isso assistir, os Beatles chegavam, aparentemente, ao fim do caminho.
E digo aparentemente porque, depois de tantos anos passados, depois de tantas novas músicas, estilos, inovações, a música popular nunca mais conseguiu criar fenómeno igual.
Hoje os Beatles continuam a "encher" os ouvidos, e os sentidos, de quem tem o privilégio de os ouvir.
E, estou convencido, amanhã continuará a ser assim!
Desenhos em pedra
segunda-feira, 9 de abril de 2007
O Circo do Sol
Nunca os vi ao vivo, mas espero ainda vir a fazê-lo! Já vi, no entanto, pela televisão, vários dos seus espectáculos e só há uma palavra para os descrever: SOBERBOS!!
Este é, sem dúvida, o maior espectácuo do mundo! É assim que o circo vive e nos maravilha. Não sou um grande adepto dos circos tradicionais, mas o Cirque du Soleil ultrapassa a imaginação mais delirante e as acrobacias mais extraordinárias, é, de facto, um espectáculo único, maravilhoso, surpreendente e cativante!
Fundado no Canadá em 1984 por Guy Laliberté e Daniel Gauthier, este colectivo, sempre em transformação, não mais deixou de deslumbrar quem já teve oportunidade de a ele assistir. Coreografias únicas, talentos ímpares, músicas excepcionais, tudo misturado, complementando-se numa magia transbordante de cores, movimentos e sons que nos deixam à beira do encantamento. Cada momento deste circo tem a capacidade de ser ultrapassado pelo seguinte, fazendo com que a respiração dos seus espectadores vá rareando à medida que o tempo corre, suspendendo-o em cada nova surpresa.
Apetece até dizer que este não é o melhor espectáculo do mundo, este é um espectáculo do outro mundo! Cheio de Sol!
quarta-feira, 4 de abril de 2007
Tchang
Nunca fez parte dos Studios Hergé, nunca trabalhou no Journal Tintin, mas é, indubitavelmente, um dos grandes responsáveis por Tintin ser como é, em certa medida até mais que o próprio Hergé.
Paradoxal? Talvez não!
Depois das 4 primeiras aventuras de Tintin terem sido publicadas, todas elas realizadas ao jeito de gags, sem grandes preocupações de verosimilhança e sem grades estruturações de argumento, Hergé mostrou vontade de enviar o herói à China. Quando se soube que tal ia acontecer um estudante de Belas Artes de origem chinesa que estudava em Bruxelas foi, em boa hora, apresentado ao autor. Estávamos nos inícios da década de 30.
O Loto Azul foi assim concebido com a ajuda, o aconselhamento e o trabalho de Tchang Tchong Jen, que sugeriu a Hergé o trabalho de pesquisa, de elaboração mais pensada da história, da criação de argumentos estruturados ao mais ínfimo pormenor, dando-lhe a verosimilhança que Hergé tanto procurara sem o saber.
Tchang, depois desta colaboração, que gerou em grande amizade, voltou à sua China natal, entretanto tornada República Popular, e apesar de muitos esforços feitos através dos anos por Hergé para se reencontrar com o seu amigo, tal veio a revelar-se infrutífero. Até que, muitos anos mais tarde e por mero acaso, veio a acontecer. Durante um jantar num restaurante chinês em Bruxelas, Hergé perguntou ao dono se, por acaso, conhecia o seu amigo e qual não foi o seu espanto quando chegaram à conclusão que ambos eram amigos do mesmo Tchang. A partir daí e depois de muitos contactos, foi possível a Tchang voltar a Bruxelas, em 1981. Reencontro emocionado, que já tinha acontecido nas páginas das Aventuras de Tintin, em Tintin no Tibete, agora transportado para a vida real.
Tchang , que entretanto se tornou cidadão francês vindo a falecer em 1998, foi a única pessoa de carne e osso a ter lugar de relevo nas Aventuras, nos dois livros atrás referidos.
A ele devemos, deste modo, grande parte da qualidade e sobretudo do sentido de amizade, que perpassam nas Aventuras de Tintin.
Paradoxal? Talvez não!
Depois das 4 primeiras aventuras de Tintin terem sido publicadas, todas elas realizadas ao jeito de gags, sem grandes preocupações de verosimilhança e sem grades estruturações de argumento, Hergé mostrou vontade de enviar o herói à China. Quando se soube que tal ia acontecer um estudante de Belas Artes de origem chinesa que estudava em Bruxelas foi, em boa hora, apresentado ao autor. Estávamos nos inícios da década de 30.
O Loto Azul foi assim concebido com a ajuda, o aconselhamento e o trabalho de Tchang Tchong Jen, que sugeriu a Hergé o trabalho de pesquisa, de elaboração mais pensada da história, da criação de argumentos estruturados ao mais ínfimo pormenor, dando-lhe a verosimilhança que Hergé tanto procurara sem o saber.
Tchang, depois desta colaboração, que gerou em grande amizade, voltou à sua China natal, entretanto tornada República Popular, e apesar de muitos esforços feitos através dos anos por Hergé para se reencontrar com o seu amigo, tal veio a revelar-se infrutífero. Até que, muitos anos mais tarde e por mero acaso, veio a acontecer. Durante um jantar num restaurante chinês em Bruxelas, Hergé perguntou ao dono se, por acaso, conhecia o seu amigo e qual não foi o seu espanto quando chegaram à conclusão que ambos eram amigos do mesmo Tchang. A partir daí e depois de muitos contactos, foi possível a Tchang voltar a Bruxelas, em 1981. Reencontro emocionado, que já tinha acontecido nas páginas das Aventuras de Tintin, em Tintin no Tibete, agora transportado para a vida real.
Tchang , que entretanto se tornou cidadão francês vindo a falecer em 1998, foi a única pessoa de carne e osso a ter lugar de relevo nas Aventuras, nos dois livros atrás referidos.
A ele devemos, deste modo, grande parte da qualidade e sobretudo do sentido de amizade, que perpassam nas Aventuras de Tintin.
A beleza da B.D.
François Bourgeon é um dos grandes nomes da Banda Desenhada francófona da actualidade. Nasceu em Paris em1945 e iniciou o seu percurso de desenhador e argumentista de B.D. em 1971. Autor de obra pouco numerosa, é, no entanto, um dos maiores perfeccionistas da actual B.D., tanto em termos do desenho, como do próprio argumento. As suas obras maiores estão dividas em vários tomos, originando, no final, livros grandiosos, tanto em termos do tamanho como, sobretudo, em termos de qualidade literária e visual.
Em 1979 inicia a publicação do seu primeiro grande trabalho, Os Passageiros do Vento, finalizado em cinco volumes, que incidem sobra as atribulações das tripulações dos navios negreiros do século XVIII.
Em 1983, dividida em três tomos, sai, porventura, a sua obra maior. Os Companheiros do Crepúsculo levam-nos a uma baixa Idade Média cheia de intrigas, lutas e fantasia. Soberbo!
Em 1993, com a colaboração de Claude Lacroix, inicia a sua obra futurista, O Ciclo de Cyann, que já vai em cinco volumes.
Bourgeon, cujo traço é extremamente realista e as histórias muito densas, já recebeu o grande prémio de Angoulême e é de leitura, mais que, obrigatória para quem gosta de bons livros.
terça-feira, 3 de abril de 2007
A Luz das Estrelas
No dia 2 de Abril de 1805 nascia em Odense, na Dinamarca, um menino a quem puseram o nome de Hans Christian Andersen. Esse menino tornou-se, anos mais tarde, num dos mais importantes construtores de sonhos, que permitiram que outros meninos pudessem voar nas asas da imaginação.
Em 1967, o International Board on Books for Young People, decidiu consagrar esta dia à comemoração do Dia Internacional do Livro Infantil. Andersen decerto se sentiu contente por esta iniciativa. Estou certo, até, que todos aqueles que gostam de ler, que gostam de viajar nas páginas encantatórias dos contos fantásticos, se sentiram satisfeitos por haver um dia assim. Estou mais certo ainda, que esse encantamento não dura apenas um dia, mas se reparte por todos os dias do ano, em cada momento em que nos permitimos ser levados pelos sonhos que se desprendem dessas páginas. E esta certeza amplia-se ainda na convicção que o livro infantil é comungado por todos aqueles que ainda têm idade e, sobretudo, capacidade para nele (re)encontrar a felicidade inicial, a descoberta primeira, a luz primordial!
Este ano coube ao escrior eslovaco Ján Uliciansky, escrever a mensagem destinada a assinalar, internacionalmente, este dia. Do seu texto, muito bonito, apetece-me respigar apenas uma frase:
«As estrelas são livros num céu nocturno e iluminam a escuridão».
É bom saber que cada livro, cada leitura, nos ajuda a iluminar o céu, tornando-o um tapete maravilhoso de pontos brilhantes. É óptimo olhar para o firmamento, numa noite límpida, e saber que cada estrela que nos contempla lá do alto, corresponde a um livro que nos encantou as horas e que cada leitura ajudou a atenuar, mais um bocadinho, a escuridão que ainda teima em persistir.
E depois, como também diz o Ján, «(...) o universo é realmente infinito (...)», por isso há sempre mais um livro à nossa espera, há sempre a possibilidade de continuarmos a acender mais uma luzinha! Todos os dias...
Os grandes por detrás do grande
Jacques Martin foi um dos grandes pilares dos Studios Hergé e do Journal Tintin. Companheiro de Hergé desde 1948, a ele se deve grande parte do sucesso desses dois projectos. Tal como outros, a que já fizemos referência, Martin foi um dos enormes "secundários" que ajudaram Tintin a ser enorme.
Este francês de Strasbourg, radicado em Bruxelas depois da guerra é, também ele, autor de série de enorme sucesso e que ainda hoje se mantém, Alix, aventuras passadas na chamada Antiguidade Clássica.
segunda-feira, 2 de abril de 2007
Na ilha dos trevos
Tenho um certo fascínio pelas coisas da Irlanda, não sei bem porquê, mas acontece. Talvez alguns resquícios de sangue celta, que não faço ideia se possuo, mas é possível que sim.
Grandes escritores, grandes dramaturgos, grandes lendas, grandes músicos, grandes músicas e uma capacidade de resistência perante adversidades que, não seria mau se nós, que tal como eles somos periféricos, tomássemos como exemplo.
E depois têm aquele gosto pela reunião nos pubs, pela melhor cerveja do mundo, pelas cantorias em coro, juntando todas as idades, pela melhor convivialidade possível.
Ontem estive a ouvir uma das bandas que melhor retrata, na minha opinião, esse espírito irlandês, tradicional e rebelde, The Pogues, é o seu nome e fazendo juz a essa costela de lenda, escrita, tragédia e muito álcool, aqui fica um breve excerto de "The Streams of Whiskey", que, de certeza, todos os irlandeses juram existir nas sua green land:
«Last night as I slept
I dreamt I met with Behan
I shook him by the hand and we passed the time of day
When questioned on his views
On the crux of life's philosophies
He had but these few clear and simple words to say
I am going, I am going
Any which way the wind may be blowing
I am going, I am going
Where streams of whiskey are flowing(...)»
Personagem ou autor?
Diz-se que Hergé afirmou, a propósito da não continuação de Tintin após a sua morte, "Tintin sou eu!"
Os factos apontam, no entanto, para que Tintin, o Capitão, o Professor e mesmo os Dupondt, fossem várias facetas do seu autor, assim como algumas outras que, não as possuindo, gostaria de ter tido.
De qualquer forma, parece-me indubitável que personagens e autor, por vezes, se confundem. Tintin surge-nos aqui a a provar isso mesmo.
Personagem? Autor?
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