sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A ver comboios...


Não, não vou falar de comboios, nem sequer deste bonito edifício onde está instalada a Estação do Rossio, que, apesar das decepções que Lisboa nos tem vindo a dar, mantém uma dignidade e uma beleza evidentes, pelo menos vistas do lado de fora.
Vou só relembrar mais um cinema desaparecido. O Terminal, que vivia no piso térreo de um centro comercial que, há uns anos, por aqui coabitava com os comboios. Nesse espaço, feiinho por sinal, existiam também, uma pequenina discoteca onde comprei o meu exemplar vinil do Wind and Wuthering e uma livraria da Assírio & Alvim onde chegou a trabalhar o meu amigo Miguel.
Nesse cinema lembro-me de ter visto, há quase 30 anos, Kramer contra Kramer, onde brilhavam Dustin Hoffman e Meryl Streep.
Hoje, por ali, só conseguimos mesmo ver os comboios!
Bom fim de semana!

Rachel Getting Married


Lembrei-me do slogan que Pessoa criou para a Coca-Cola:
«Primeiro estranha-se, depois entranha-se»

O facto é que depois de uma certa estranheza, conclui que gostei bastante deste filme!

As canções mais bonitas


Ao longo das, já muitas, páginas virtuais que este blogue comporta, fui dando conta, amiúde, das músicas, compositores e bandas de que gosto. Daquelas que me fazem parar e admirar a excelência dos sons que me trazem. Daquelas que valem momentos inesquecíveis. Daquelas que me fazem, sempre, voltar a viver emoções particulares.
São em número apreciável. São de vários estilos e escolas. Reportam a vários anos e épocas. Em comum terão, apenas, o meu gosto pessoal.
No entanto, se me perguntarem, a quem pertencem as canções que considero mais bonitas, não empolgantes, nem épicas, nem dançantes, nem raivosas, nem eufóricas, nem divertidas, nem deprimentes, nem alegres, mas apenas bonitas, só me ocorre uma resposta: as que foram feitas por Paddy McAloon e os seus Prefab Sprout.
Por isso fico muito contente por não se ter confirmado o que aqui disse, por saber que o novo disco irá sair no próximo verão e até já ter nome e alinhamento. Estes que aqui estão:
'Let's Change the World With Music: The Blueprint'

1. Let There Be Music
2. God Watch Over You
3. The Last Of The Great Romantics
4. Let's Change The World With Music
5. Angel of Love
6. Earth: The Story So Far
7. Falling In Love
8. I Love Music
9. Meet The New Mozart
10. Music Is a Princess
11. Ride Home To Jesus
12. Sweet Gospel Music

E tenho (quase) uma certeza! Estas doze canções, mesmo sem as ter ainda ouvido, irão dar-me razão, mais uma vez!

Welcome back Paddy!

Galeria do Nunca (15)


Roy Lichtenstein
Girl With Hair Ribbon - 1965

Mais do mesmo!


«O Sporting acusou esta quinta-feira o F. C. Porto de ter agido de má-fé na argumentação utilizada para convencer os leões a antecipar a partida deste sábado, no Dragão, ao argumentar com a realização do jogo com o Estrela para a Taça.(...)»

Mas ainda alguém se admira com as atitudes de tal agremiação?!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

My friend the Laptop!!!


No DN:

«Estão as redes sociais a mudar o nosso cérebro? (…)
O Facebook e o Twitter estão a mudar a forma como pensamos. (…)Uma prestigiada neurologista britânica diz que os efeitos culturais e psicológicos das relações online vão mudar o cérebro das próximas gerações: menos capacidade de concentração, mais egoísmo e dificuldade de simpatizar com os outros e uma identidade mais frágil são algumas das consequências que Susan Greenfield antecipa.
O alerta da especialista surge na mesma semana em que foi divulgado que Portugal é o terceiro país europeu que mais utiliza as redes sociais na Internet - de acordo com a Marktest (...), os portugueses dedicaram quatro milhões de horas a estes sites. (…)»


Na verdade corremos o risco, muito sério e concreto de, apesar de termos milhares de amigos (?) espalhados por todo o mundo, o nosso verdadeiro e único amigo se passar a chamar laptop!!!

Galeria do Nunca (14)


Henri Matisse
Ícaro - 1947

Prosit !!!


De todas as festas populares a que já tive oportunidade de assistir, uma das que mais me fascinou e cativou, foi a Oktoberfest de Munique.
Admirei a folia, primeiro algo contida e depois efusivamente desbragada, daqueles bávaros vestidos com trajos tradicionais, bebendo cerveja a rodos, cantando em coro e fazendo saúdes de 5 em 5 minutos!
Por falar em 5, creio que 5 canecas são o máximo que alguém consegue aguentar, pelo menos se quiser manter alguma compostura, mesmo que excessivamente etilizada.
Esta é a festa bávara por excelência. Nos dias em que dura, os muniquenses, se é que existe tal designação, dão largas a uma loucura que, noutras alturas, talvez escondam, disfarcem, contenham. A não ser, talvez, quando a equipa de futebol da sua cidade, consegue um feito digno de festejos entusiastas. Como quando, por exemplo, vão a um país estrangeiro e despejam as tais 5 canecas de cerveja gelada pelas goelas dos seus anfitriões.

(Parece-me que, há algumas horas atrás, vários milhares de lisboetas estavam muito verdinhos para aguentarem tal prova!)

Prosit!!!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Os matraquilhos estruturais


No Público online:

«Marítimo : João Jardim considera Carvalhal "um bom treinador português"
O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, considerou hoje Carlos Carvalhal, que deverá ser o próximo técnico da equipa de futebol do Marítimo, sétimo classificado da Liga de futebol, "um bom treinador português".
O chefe do executivo madeirense(…) disse que o Governo Regional nunca apoiou o brasileiro Lori Sandri e espera que Carlos Carvalhal venha a definir uma equipa estruturada(…)»

Depois destas importantes e reveladoras afirmações, porque esperam Cavaco Silve e José Sócrates para se pronunciarem acerca de Jesualdo Ferreira, Paulo Bento ou até do espanhol Quique Flores?
Será que o futebol só é uma actividade estruturante na Madeira?

Cesário Verde


154 anos hoje:

«Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer (...)»

Galeria do Nunca (13)


Max Ernst
O Olho do Silêncio - 1943/1944

1, 2, 3...


Contamos!

I've got six things on my mind you're no longer one of them (Prefab Sprout – Desire As)

Para nos sentirmos seguros? Para quantificarmos os nossos sentimentos?
Para conhecermos os nossos medos, dúvidas e certezas?
Transformamos as nossas vidas em números!
Contamos as horas, os minutos, os segundos.
Contamos as pessoas, as suas vindas e idas, os seus sorrisos e lágrimas.
As relações. As que vingam e as que vão embora. Contamos os que ficam e os que partem.
Contamos porque os números contam! Porque não sabemos viver sem enumerar, sem contabilizar, sem contar!
Mesmo quando pensamos que assim não é, nunca conseguimos descontar, nunca somos capazes de o evitar, porque o número nos conduz, pensamos, à perfeição.
Até contamos os mortos! Provavelmente para termos o conforto de saber que estamos vivos!
De todas as contagens que conheço, de todos os números que vi, de todos os jogos, com números que joguei, gostei particularmente daquele que Peter Greenwood inventou. Chamou-lhe Drowning by Numbers. Mostra-nos como três mulheres, da mesma familia, decidem afogar os seus três maridos. Espicaça a nossa curiosidade escondendo números, de 1 a 100, por todo o filme.
Estranho! Bizarro! Demente? Talvez, mas também por isso se torna mais atraente! Até hoje ainda não consegui descobrir todos os números!
Afinal talvez seja essa a magia dos números, descobrir onde se escondem aqueles que ainda não encontrámos!
Descubramos então!

Ten: Apes turn into men
And grapes turn into wine
How we made it to nine
I'll never know

Eight: Man looks for a mate
But fate plays cruel tricks
And seven turns to six
Still he's alone

Along comes number five
Eureka, I'm alive
I think, therefore, I am a lucky man

Three: From this balcony
The two of us can see
The house where we first met
One wet Sunday
(The Divine Comedy – Ten Seconds to Midnight)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A ratazana em nós


«Na verdade, nada dura mais do que um instante a não ser na nossa memória – preferia morrer a esquecer…»
Firmin de Sam Savage

Creio que todos nós, uns mais outros menos, uns fantasiando, outros levando muito a sério, já nos sentimos como que prisioneiros nos nossos invólucros corporais. Acontece-nos não acharmos correspondência entre aquilo que a nossa imagem mostra e o que o nosso corpo demonstra. Como que fechados, presos, encarcerados em vidas que não queremos conhecer, em histórias que não gostaríamos de partilhar. Enquanto, no outro lado, vivemos em sonhos e fantasias que, em boa verdade, se tornam realidade efectiva, mesmo que nunca cheguem a acontecer.
Como que, por exemplo, uma imaginação delirante nos dissesse que uma ratazana não era apenas uma ratazana, mas um espírito imenso, imerso em contradições humanas, em desejos, dúvidas e alegrias que nunca reconheceríamos num roedor com aspecto repugnante.
Uma ratazana mais Humana que qualquer pessoa. Uma ratazana, suprema fantasia, que conseguisse ler, observar, absorver e viver, todas as milhares de páginas que bebeu avidamente.
É, no fundo, um ser humano sensível, crente na bondade dos outros e do mundo, que, apercebendo-se que a desilusão também faz parte desse mundo, acaba por não se render e num último momento, devorando, literalmente, uma derradeira página do primeiro livro que foi seu, o converte, definitivamente, em seu, materializando uma velha suspeita: « (…) toda a gente tem dois lados, um escuro e um claro(…)»

Galeria do Nunca (12)


Gustav Klimt
O Beijo - 1907/1908

Eficiência Bracarense


No Público:

«Braga
PSP apreende livros por considerar pornográfica capa com quadro de Courbet

A PSP de Braga apreendeu hoje numa feira de livros de saldo alguns exemplares de um livro sobre pintura. A polícia considerou que o quadro do pintor Gustave Courbet, reproduzido nas capas dos exemplares, era pornográfico, adiantou uma fonte da empresa(...)»

A PSP de Braga:
- ainda não percebeu que a censura já acabou!
- qual a diferença entre arte e pornografia!
- que a salvaguarda dos bons costumes não passa pela apreensão de livros!
- ou é simplesmente mentecapta!

Já agora podiam ir ao Museu D’Orsay apreender o quadro original! Creio que os parisienses haviam de ficar muito agradecidos por tão diligente atitude das nossas bracarenses autoridades!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Cameos


Geralmente gosto de ver, ouvir e ler, referências inesperadas dentro de livros, filmes e músicas.
Gosto, sobretudo, de perceber essas referências quando não são evidentes, quando há uma descoberta repentina, fortuita. Como, quando numa música original se ouvem, discretos, alguns acordes de uma música muito conhecida, ou quando numa obra literária nos espreita, de um qualquer canto remoto, uma personagem que vive num outro sitio, ou quando um autor faz reviver uma sua personagem em várias das suas histórias, criando assim uma continuidade referencial na totalidade da sua obra, ou ainda quando num filme o seu realizador nos surge numa imagem, de rompante, de fugida, piscando-nos o olho, deixando-nos como que uma espécie de marca de água, impressa a cores e em movimento.
São momentos que nos remetem para a história das imagens, sons e palavras, para memórias que queremos manter vivas, para momentos que nos acordam quando nos sentimos adormecer, são despertadores de mentes, são, se quisermos, sorrisos que nos acalentam o espírito, desafiadores de reminiscências e propiciadores de ideias.
Eu gosto desta espécie de jogo, faz-me lembrar, sentir que consigo reconhecer aquilo que me vai formando enquanto leitor, espectador, ouvinte, aquilo que me vai enchendo de conhecimentos e lembranças que, se mais não significassem, quereriam sempre dizer que estou vivo e que tenho memória.

Galeria do Nunca (11)


Vieira da Silva
A Poesia Está na Rua - 1974

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

We Try Harder ?


Este é apenas uma memória muito esparsa. Sei que ficava ali pela Av. Duque de Ávila, junto ao Arco do Cego, no sítio onde hoje, julgo eu, está instalado um Pingo Doce. Que me recorde, fui lá apenas uma vez, ver um filme que, na altura, estava muito em voga, pelo menos junto de uma faixa infanto/juvenil que se divertia com cenas que envolviam muita pancadaria. Chamava-se Trinitá O Cowboy Insolente e era uma espécie de Western/Spaghetti, onde pontificavam dois italianos com nomes americanizados, Terence Hill e Bud Spencer.
Não me lembro de mais nada daquele lugar, nem de como era a sala, nem as cadeiras, nem a envolvente. Lembro-me do nome, Avis, o que, por associação de ideias um tanto tola e forçada, me levanta uma questão, será que em Lisboa we try harder?
Bom fim de semana!

Arlecchino


Tal como Veneza, o seu Carnaval e sobretudo a sua magnificência, algo decadente, mas sempre misteriosa e eternamente bela, também esta figura enigmática me tem fascinado.
E não só a mim.

Os Genesis deixaram-lhe esta canção:

«(…)There was once a harvest in this land.
Reap from the turquoise sky, harlequin, harlequin,
Dancing round, three children fill the glade,
Theirs was the laughter in the winding stream, and in between.
Close your door, the picture fades again
From the flames in the firelight.

All, always the same,
But there appears in the shades of dawning,
Though your eyes are dim,
All of the pieces in the sky.

All, all is not lost,
And light appears in the shades of dawning
When your eyes can see»


E Agatha Christie ofereceu-lhe (mais) esta aura:

«Harley Quinn é o “homem misterioso”. Surge do nada e dilui-se na paisagem sem que alguém se aperceba. Quinn é alto, magro e moreno, e isso é tudo quanto se sabe sobre as suas características físicas. Sobre gostos pessoais e hábitos o desconhecimento é total.
As suas aparições estão por vezes associadas a fenómenos luminosos locais, que parecem fazer com que os seus fatos brilhem de forma multicolor como o fato de Arlequim. Agatha Christie afirmava que Quinn era a sua personagem favorita. »

Carnavais


Não sou grande adepto da época carnavalesca. No entanto, este Carnaval, tal como esta cidade, pela sua aura de mistério e fascínio, seduzem-me particularmente!

Gabriel & Banks


Foi em Charterhouse que tudo começou. Quando, pelo ano de 1966, estes dois jovens se conheceram e decidiram que iam criar das mais bonitas composições musicais que o mundo iria conhecer!
Hoje, eu, como decerto vários milhões de outras pessoas em todo o planeta, estamos agradecidos por isso!
De Nursery Cryme, For Absent Friends, esperando que estes nossos amigos possam, um destes dias, voltar a encantar-nos:

«Sunday at six when they close both the gates
a windowed pair,
still sitting there,
Wonder if they're late for church
and its cold so they fasten their coats
and cross the grass, they're always last.

Passing by the padlocked swings,
the roundabout still turning,
ahead they see a small girl
on her way home with a pram.

Inside the archway
the priest greets them with a courteous nod.
He's close to god.
Looking back at days of four instead of two.
Years seem so few.
Heads bent in prayer
for friends not there.

Leaving twopence on the plate,
they hurry down the path and out the gate
and wait to board the bus
that ambles down the street.»

Galeria do Nunca (10)


Pablo Picasso
Guernica - 1937

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

451 º


Ray Bradbury e François Truffaut quiseram mostrar-nos como seria. Como num mundo semelhante ao nosso se queimariam as ideias, se destruiria a beleza, se acorrentava a imaginação. Os homens, manietados por forças superiores, não olham a meios para as venerarem cegamente. Felizmente que há sempre alguém que tem dúvidas, há sempre que tenta pensar, há sempre alguém que, mesmo a medo, se propõe a reagir. Há sempre alguém que consegue dizer NÃO! Mesmo que para isso se condene a penas mais perversas que uma qualquer imaginação delirante consiga engendrar. Primeiro que tudo a sua própria consciência! Depois os outros, os ditos e mexericos, os olhares penetrantes que lhe vão tentando destruir as defesas. No fim de tudo saberá que a sua recompensa nunca lhe será entregue, mas terá plena consciência de que o fogo, na verdade, não regenera, apenas destrói aquilo que nos é caro, pelo que é absolutamente necessário mantê-lo longe da corrente por onde o essencial se vai escoando! A não ser que o mundo, qual fénix, se consiga recuperar e nele só sobrarem aqueles que, ingénua mas decididamente, peguem na palavra e a tornem verdade!

Back on the chain gang...again


Clique aqui para ver.
Magnifico!!!

"devenir immortel…et puis mourir. "


Jean-Luc Godard é um dos cineastas mais justamente polémicos, não só do cinema francês, mas, naturalmente, do cinema mundial. Associado à Nouvelle Vague, trouxe-nos uma nova forma de fazer e ver cinema. De entre muitos dos seus filmes mais conhecidos e emblemáticos, permito-me destacar o primeiro, À Bout de Souffle, em português O Acossado.
Este filme foi realizado a preto e branco, com um guião feito à medida que se ia filmando, a partir de histórias imaginadas por outro grande realizador francês, François Truffaut. Os seus protagonistas foram Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg. É um filme em andamento constante. De perder o fôlego. É, sobretudo, um filme perfeitamente europeu. Nota-se o pulsar do velho continente, de uma França moderna, mas dona de um rasto cultural de muitos anos! Ressalta aqui uma forte reacção aquilo que a tirania de Hollywwod vinha impondo.
É exactamente isso que Neil Hannon e os seus Divine Comedy nos fazem sentir quando ouvimos a canção When The Lights Go Out All Over Europe:

«(...)And when she asks of his ambition,
Jean-Pierre replies, "My mission
Is to become eternal and to die..."

Heaven knows the reason why...

When the lights go out all over Europe,
I forget about old Hollywood,
'Cos Doris Day couldn’t make me cheer up
Quite the way those French girls always could(...)»


Talvez seja esta a mais importante missão do cinema europeu : "devenir immortel…et puis mourir. "

Lado A e Lado B


Revejo hoje, na revista Visão, que os vinis voltam a estar na moda. É uma moda que se tem vindo a acentuar nos últimos tempos. Nesta notícia ressalta, sobretudo, a quantidade assinalável de lojas que se dedicam, em exclusivo, à venda destes discos. São recuperados os antigos e são editados novos exemplares. Bandas como os The Gift vão fazer, ou já fizeram, a edição de toda a sua discografia neste suporte. Há músicos, como Elvis Costello, que, no seu último trabalho, optou por só editar em vinil e digital. Surgem novos gira-discos, alguns até com ligação directa a leitores de mp3 ou 4. Colocam-se à venda kits de limpeza, com os líquidos próprios, com as escovinhas para as agulhas e o veludo para os discos.
Tudo isto me causa uma certa surpresa, não pensei que o vinil viesse a ressurgir. De qualquer forma, creio que se destina a um nicho muito reduzido de mercado, a certos saudosistas, ou a jovens que, de alguma forma, querem marcar uma certa diferença.
Eu, por mim, nunca deixei de ouvir os meus antigos vinis. Ainda tenho a minha escova, o meu veludo, o meu gira-discos e sobretudo, o grande gozo de conhecer as canções, que sempre me acompanharam, pela sua localização no disco. Lado A, ou lado B!

Galeria do Nunca (9)


Edgar Degas
L'absinthe - 1876

Da criação de trogloditas


No DN:

«Ministério Público investiga queixas do Colégio Militar
(...)O caso dos cinco alunos do Colégio Militar internados por excesso de treino físico não é único. Neste momento, existem dois processos em investigação no Ministério Público (MP) e, pelo menos, outro está a ser julgado em tribunal. Tudo por alegados maus tratos por parte de estudantes mais velhos dentro da instituição.(...)»

Não é violência, dizem eles. É disciplina, dizem eles!
Esta necessidade, inominável, de fazer passar a ideia de uma masculinidade acéfala, que vigora entre as mentalidades tacanhas e parolas dos nossos jovens aspirantes a militares (e em muitos outros também), que procuram provar a si próprios e, sobretudo aos seus pares, que são fortes e invencíveis, parece-me coisa própria do passado, de um passado em que a condição humana não era, minimamente, respeitada, em que ser homem era sinónimo de não ter sensibilidade, de não verter uma lágrima, de não saber que ser pessoa é um conjunto de várias componentes que, todas juntas, criam o homem e a mulher, a pessoa!
Isto faz com que suba, de novo, à tona a ideia que já possuo há muito tempo, a de que o exército português e seus sucedâneos não servem, exactamente, para nada. A não ser que se considere a criação de trogloditas como uma prioridade nacional!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

The Stolen Child

«Where dips the rocky highland
Of Sleuth Wood in the lake,
There lies a leafy island
Whereflapping herons wake
The drowsy water rats;
There we've hid our faery vats,
Full of berrys
And of reddest stolen cherries.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
(…)
Away with us he's going,
The solemn-eyed:
He'll hear no more the lowing
Of the calves on the warm hillside
Or the kettle on the hob
Sing peace into his breast,
Or see the brown mice bob
Round and round the oatmeal chest.
For he comes, the human child,
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than he can understand»


Excerto de um poema de W.B.Yeats chamado The Stolen Child.
Por ele, talvez se perceba porque podem as crianças ser atraídas pelo mundo encantado das fadas. Pelo menos algumas crianças. Pelo menos aquelas crianças que, mesmo já tendo idade para ter juízo, continuam a acreditar que há um outro mundo, melhor do que este que, ainda, não conseguem compreender!



Nota: Existe uma versão cantada deste poema, interpretada pelos Waterboys, com a participação vocal, soberba, do actor irlandês Tomas MacEoin, incluída no seu álbum The Fisherman’s Blues

Galeria do Nunca (8)


Keith Haring
Nous, Tintin - 1987

Anormalidades ?


No CM:

«“A homossexualidade não é normal”, diz D. José Saraiva Martins
(...)Apesar de respeitar a dignidade humana dos homossexuais, D. José Saraiva Martins, que tem assento no Vaticano e que participou no Concílio que elegeu o Papa Bento XVI, entende que “a homossexualidade não é normal”. Uma afirmação que justifica com o facto de na Bíblia estar escrito que quando Deus “criou o ser humano, criou o homem e a mulher”.(...)»

Mais um elemento do alto clero português que desata a língua, deixando, no entanto, que o nó que tem preso no cérebro lhe tolde aquilo que, por principio, a Igreja tenta ensinar aos seus seguidores, a tolerância e o amor pelo próximo. Ou será que os homossexuais não fazem parte desse próximo?
E já agora, pergunta parva mas que me assalta neste momento, se Deus criou homem e mulher e lhes ofereceu a instituição do matrimónio, porque será que não permite o casamento aos seu representantes na Terra? Será porque estes também não são normais?

Partir o espelho


Até onde estaremos dispostos a ir pelos outros?
Quão grande será o nosso altruísmo?
Qual a verdadeira dimensão do nosso ego?
Será que o conseguimos dominar?
Dominar aquilo que nos acalenta o brio? Aquilo que nos faz sentir o orgulho? Aquilo que nos forma a personalidade, nos enforma, deforma...?
Abrir mão de nós mesmos é difícil. Abrir as mãos e soltar um sorriso, dá-lo, sinceramente, ao outro, libertá-lo sem retorno, sem esperar recompensa!
É possível? É real? É quimera?
O que nos vem mostrando o mundo, as pessoas, as suas atitudes, é que nunca seremos capazes de olhar os olhos dos outros de forma completa, absoluta, límpida.
É assim a condição humana? Será esse o sentido da vida?
Só conseguimos ver o que se passa à nossa volta pelos nossos olhos, pelas nossas cores. Por muito que queiramos acreditar que somos pelos outros, nunca o seremos verdadeiramente enquanto aqueles forem vistos e sentidos apenas através dos nossos olhos... enquanto reduzirmos o mundo apenas à nossa (falta de) visão!
Talvez o consigamos quando partirmos os espelhos e deixarmos que a imagem do outro se reflicta nos nossos olhos.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Resposta?


«(...)- Que se pode fazer se não se pode vender nada - repetiu a mulher
- Então já será 20 de Janeiro - disse o coronel, perfeitamente consciente. - Os vinte por cento são pagos no mesmo dia.
- Se o galo ganhar - insistiu a mulher. - E se perder, você não pensou que o galo pode perder.
- Um galo desses não pode perder.
- Vamos supor que perca.
- Faltam ainda quarenta e cinco dias para pensar nisso. - disse o coronel.
A mulher desesperou-se.
- E, entretanto, que vamos comer - perguntou e agarrou o coronel pelo peito da camisa. Sacudiu-o com força:
- Diga, que vamos comer.
O coronel precisou de setenta e cinco anos - os setenta e cinco anos da sua vida, minuto a minuto - para chegar aquele instante. Sentiu-se puro, explícito, invencível, no momento de responder:
- Merda.»


Gabriel García Marquez - Ninguém Escreve ao Coronel

E a nós, a quem o galo parece definhar lentamente. O que será que nos resta?

A volta está concluída


Por aqui ainda a volta estava em andamento!
Agora o livrovoltou a casa! São, salvo e, decerto, com muitas histórias para contar!
Parabéns a todos os que nela participaram!

Back on the chain gang


Estão a passar na rádio agora. Fazem-me lembrar uma espécie de salto que dei no final da minha juventude, quando, já cheio de sinfonismo no rock que ouvia, decidi partir por outros caminhos. Não estava bem certo do que era o punk, que, confesso, me assustava um pouquinho, não estava também numa nova onda, que me parecia muito flat em termos musicais. No entanto estava precisar de ouvir algo de novo, algo que me entusiasmasse para além das longas tiradas de teclados, dos intermináveis solos de guitarra. Algo que fosse mais ligeiro, mais imediato, mas, ao mesmo tempo, que transmitisse o conforto de uma audição suave e melódica.
Na montra da discoteca lá estava ele. A capa era simples, três homens com roupa escura e uma mulher de vermelho. No fundo branco, uma palavras sobressaía, Pretenders. Entrei, comprei, ouvi e conclui (avant la lettre), I'm back on the train, back on the chain gang!

Galeria do Nunca (7)


Almada Negreiros
Retrato de Fernando Pessoa - 1954

Correntes d'Escritas


Decorreu por estes dias uma das mais nobres iniciativas realizadas em Portugal sobre a escrita e os escritores. Já vai na sua décima edição e congrega muita gente ligada a esta coisa das letras. Editores, escritores, jornalistas da área. É um evento que já ganhou, justamente creio eu, contornos de obrigatoriedade. Chama-se Correntes d’Escritas e realiza-se na Póvoa do Varzim. Trata das palavras escritas nas línguas que Camões e Cervantes imortalizaram, nas expressões que Garcia Marquez, Amado, Borges, Pepetela, Craveirinha, Saramago, Ballester e tantos outros continuaram.
Parece-me, sem nunca lá ter ido, que deve ser um local bonito, calculo que seja bom lá ir, ouvir, ver, saber, possivelmente até ler.
Acho apenas que devia ter mais visibilidade, maior divulgação, sob pena de se ficar por uma iniciativa meramente corporativa, não chegando ao grande público, aquele que se devia motivar a ler, a ler a sério!
Às vezes as correntes podem servir apenas para prender…esperemos que não tenha sido este o caso!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Jornalismo???!!!!


Só agora, há poucos minutos atrás, tive oportunidade de ver a peça que passou no Jornal Nacional da TVI na 6ª feira da última semana, sobre o cartaz da JSD em que José Sócrates é apelidado de Pinócrates. Acerca do cartaz já me pronunciei aqui. O que me interessa agora, e me repugna, foi o que acabei de ver. Se a minha opinião sobre a TVI, a sua forma de fazer jornalismo e esta senhora em particular, não eram muito positivas, neste momento estou completamente esclarecido! Isto não é jornalismo, isto não é factual, isto não é sério, isto é, verdadeiramente, uma atitude de pocilga, uma autêntica MERDA!!!

Happy Goth


Uma menina, talvez com 7 ou 8 anos, vestida normalmente, pelo menos sem nenhum sinal destoante perante aquilo que é considerado normal numa menina dessa idade. Ia de mão dada com uma senhora, que julguei ser sua mãe, aparentando cerca de 30 anos. Esta vestia de preto, carregado, usava cabelo vermelho vivo, botas Doc Martens, meias riscadas pretas e brancas, com um blusão de cabedal adornado de correntes. A juntar a isto tinha também alguns piercings espalhados pela cara, calculo que também usasse tatuagens, embora não tivesse confirmado nenhuma!
Esta cena, presenciada no último fim de semana, não tem, muito provavelmente, significado especial. Fez-me pensar, no entanto, se não estaremos perante uma mudança de paradigma a nível das atitudes. Ou seja, é normal os filhos serem rebeldes, tomarem atitudes de ruptura perante o mundo dos seus pais, fazerem valer, ou pelo menos tentarem, os seus ponto de vista, normalmente antagónicos perante aquilo que a geração anterior personificou. Neste caso o que me chamou a atenção foi o facto de estarmos ao contrário. A filha normal, a mãe rebelde, ou talvez não fosse nada disso!?
Pode ser só uma questão de imagem e não ter outro significado. Ou então, como nos diz Neil Hannon, é apenas um contra senso e esta é uma gótica feliz!!!

«(...)Well her clothes are blacker than the blackest cloth
And her face is whiter than the snows of Hoth.
She wears Dr. Martens and a heavy cross,
But on the inside she's a happy goth.(...)»

Ou, porque é que cada vez gosto mais dele!


Retirado daqui:

«Peter Gabriel deu um “não” aos Oscares. Ou, para sermos mais precisos, declinou o convite para actuar na cerimónia de dia 22. O motivo? O facto de ver a sua actuação reduzida a 65 segundos(...), mas adiantou que estará presente na sala.(...)»

Sem dúvida uma das mais bonitas canções que, nos últimos anos, está a concurso. No entanto, por isso mesmo, não precisa de estatuetas para provar o seu real valor!
Já agora acrescento que Wall E foi, igualmente, um dos melhores filmes a que assisti nos últimos tempos!

Galeria do Nunca (6)


Peter Paul Rubens
A Queda de Féton - 1604/1605

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

444


Sei que ficava ali na Avenida Defensores de Chaves, creio que muito perto do Campo Pequeno. Já não me recordo bem. Fui lá poucas vezes. Lembro-me de uma. O filme era o Barry Lyndon do Stanley Kubrick. Filme grande, extenso e intenso. Demorado para uma sala que, naquela altura, já não oferecia grande qualidade de assentos.
Estúdio 444, sala discreta, tão discreta que hoje, se lá passar, acho que não a consigo identificar. Não me ficou mais memória, tal como outras que se vão perdendo, nesta Lisboa tão desmemoriada!
Bom fim de semana!

A Trick of the Tail


Hoje, dia em Peter Gabriel completa 59 anos, li algures que o primeiro disco dos Genesis pós-Gabriel, A Trick of the Tail comemora igualmente o seu lançamento, há 33 anos atrás. Parece-me, no entanto, que não será exactamente assim. Que foi, segundo a página oficial da banda, no dia 2 de Fevereiro, embora também tenha lido, num outro sitio, que foi no dia 20 de Fevereiro. Para o caso tanto faz, o que interessará reter é esta coincidência temporal de aniversários, realçando a grandiosidade da obra de uns e de outro e a possibilidade, aqui relatada, de uma nova reunião.Como grande admirador da banda e do seu líder natural, fico com uma enorme expectativa.
Para comemorar estas datas, irei hoje ouvir algumas das canções que me ajudaram a atravessar a adolescência. Aquelas em que se podia ouvir a voz de Gabriel. Concedo, no entanto, uma excepção a esta regra. Exactamente este A Trick of the Tail!

Peter Gabriel - 59 anos!

Walking across the sitting-room, I turn the television off.
Sitting beside you, I look into your eyes.


Cuckoo cocoon have I come to, too soon for you?

Today I don't need a replacement
I'll tell them what the smile on my face meant
My heart going boom boom boom
"Hey" I said "You can keep my things,
they've come to take me home."


If looks could kill they probably will
In games without frontiers-war without tears


Anne, with her father is out in the boat
riding the water
riding the waves on the sea


I can feel it in my bones
that blood of eden keeps rushing through me
taking back what it owns


Downside up
Upside down
Take my weight off the ground
Falling deep in the sky
Slipping into the unknown


one by one
you watch them fall
and wonder where they're falling to